Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(4):477-483
DOI 10.5935/0103-507X.20220280-en
Criar e validar um modelo de predição de choque séptico ou hipovolêmico a partir de variáveis de fácil obtenção coletadas na admissão de pacientes internados em uma unidade de terapia intensiva.
Estudo de modelagem preditiva com dados de coorte concorrente realizada em um hospital do interior do nordeste brasileiro. Foram incluídos pacientes com 18 anos ou mais sem uso de droga vasoativa no dia da admissão e que foram internados entre novembro de 2020 e julho de 2021. Foram testados os algoritmos de classificação do tipo Decision Tree, Random Forest, AdaBoost, Gradient Boosting e XGBoost para a construção do modelo. O método de validação utilizado foi o k-fold cross validation. As métricas de avaliação utilizadas foram recall, precisão e área sob a curva Receiver Operating Characteristic.
Foram utilizados 720 pacientes para criação e validação do modelo. Os modelos apresentaram alta capacidade preditiva com área sob a curva Receiver Operating Characteristic de 0,979; 0,999; 0,980; 0,998 e 1,00 para os algoritmos de Decision Tree, Random Forest, AdaBoost, Gradient Boosting e XGBoost, respectivamente.
O modelo preditivo criado e validado apresentou elevada capacidade de predição do choque séptico e hipovolêmico desde o momento da admissão de pacientes na unidade de terapia intensiva.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(4):484-491
DOI 10.5935/0103-507X.20220264-en
Conhecer dados sobre recusa de leitos nas unidades intensivas no Brasil, assim como avaliar o uso de sistemas de triagem pelos profissionais atuantes.
Estudo transversal do tipo survey. Com a metodologia Delphi, foi criado um questionário contemplando os objetivos do trabalho. Foram convidados médicos e enfermeiros inscritos na rede de pesquisa da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIBnet). Uma plataforma da web (SurveyMonkey®) foi a forma de aplicação do questionário. As variáveis deste trabalho foram mensuradas em categorias e expressas como proporção. Foram usados o teste do qui-quadrado ou o teste exato de Fisher, para verificar associações. O nível de significância foi de 5%.
No total, 231 profissionais responderam o questionário, representando todas as regiões do país. As unidades intensivas nacionais tinham mais de 90% de taxa de ocupação sempre ou frequentemente para 90,8% dos participantes. Dentre os participantes, 84,4% já deixaram de admitir pacientes em leito intensivo devido à lotação da unidade. Metade das instituições brasileiras (49,7%) não possuía protocolos de triagem de leitos intensivos instituídos.
A recusa de leito pela alta taxa de ocupação é frequente nas unidades de terapia intensiva do Brasil. Ainda assim, metade dos serviços do Brasil não adota protocolos para triagem de leitos.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(3):380-385
DOI 10.5935/0103-507X.20220224-en
Determinar a incidência da síndrome pós-cuidados intensivos em uma coorte de pacientes em estado crítico admitidos à unidade de terapia intensiva e identificar fatores de risco relacionados ao seu desenvolvimento nas áreas de saúde física, cognitiva e mental.
Este foi um estudo de coorte observacional prospectivo desenvolvido na unidade de terapia intensiva de um hospital universitário. Foram incluídos no estudo pacientes internados em unidade de terapia intensiva a partir de 1 semana e com necessidade de ventilação mecânica por mais de 3 dias, choque ou delirium. Foram registradas variáveis demográficas, motivo da admissão, diagnósticos, sedação, tipo de ventilação mecânica, complicações e tempo de internação. Realizou-se análise univariada para identificar os fatores de risco relacionados à síndrome pós-cuidados intensivos. As escalas utilizadas para a avaliação das diferentes esferas foram Barthel, Pfeiffer, Hospital Anxiety and Depression Scale e Impact of Event Scale-6. As principais variáveis de interesse foram incidência da síndrome pós-cuidados intensivos de modo geral e por domínios. Os fatores de risco foram examinados em cada um dos domínios da saúde (saúde física, cognitiva e mental).
Participaram 87 pacientes. A Acute Physiology and Chronic Health Evaluation II média foi de 16,5. O número médio de dias na unidade de terapia intensiva foi 17. A incidência geral da síndrome pós-cuidados intensivos foi de 56,3% (n = 49; IC95% 45,8 - 66,2). A incidência da síndrome pós-cuidados intensivos em cada uma das esferas foi de 32,1% (física), 11,5% (cognitiva) e 36,6% (saúde mental).
A incidência da síndrome pós-cuidados intensivos foi de 56,3%. A esfera da saúde mental foi a mais frequentemente envolvida. Os fatores de risco diferem, dependendo da área considerada.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(3):335-341
DOI 10.5935/0103-507X.20220040-en
Comparar a mecânica pulmonar e os desfechos entre a síndrome do desconforto respiratório agudo associada à COVID-19 e a síndrome do desconforto respiratório agudo não associada à COVID-19.
Combinamos dados de dois ensaios randomizados sobre a síndrome do desconforto respiratório agudo, um incluindo apenas pacientes com COVID-19 e o outro incluindo apenas pacientes sem COVID-19, para determinar se a síndrome do desconforto respiratório agudo associada à COVID-19 está associada à maior mortalidade aos 28 dias do que a síndrome do desconforto respiratório agudo não associada à COVID-19 e também examinar as diferenças na mecânica pulmonar entre esses dois tipos de síndrome do desconforto respiratório agudo.
Foram incluídos na análise principal 299 pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo associada à COVID-19 e 1.010 pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo não associada à COVID-19. Os resultados mostraram que os pacientes sem COVID-19 utilizaram pressão positiva expiratória final mais alta (12,5cmH2O; DP 3,2 versus 11,7cmH2O; DP 2,8; p < 0,001), foram ventilados com volumes correntes mais baixos (5,8mL/kg; DP 1,0 versus 6,5mL/kg; DP 1,2; p < 0,001) e apresentaram menor complacência respiratória estática ajustada para o peso ideal (0,5mL/cmH2O/kg; DP 0,3 versus 0,6mL/cmH2O/kg; DP 0,3; p = 0,01). Não houve diferença entre os grupos quanto à mortalidade aos 28 dias (52,3% versus 58,9%; p = 0,52) ou à duração da ventilação mecânica nos primeiros 28 dias entre os sobreviventes (13 [IQ 5 - 22] dias versus 12 [IQ 6 - 26] dias; p = 0,46).
Esta análise mostrou que os pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo não associada à COVID-19 têm mecânica pulmonar diferente, mas desfechos semelhantes aos dos pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo associada à COVID-19. Após pareamento por escore de propensão, não houve diferença na mecânica pulmonar e nem nos desfechos entre os grupos.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(3):360-366
DOI 10.5935/0103-507X.20220477-en
Investigar a aplicabilidade do Índice de Oxigenação Respiratória para identificar o risco de falha de cânula nasal de alto fluxo em pacientes com pneumonia.
Este estudo retrospectivo observacional de 2 anos foi realizado em um hospital de referência em Bogotá, na Colômbia. Incluíram-se no estudo todos os pacientes em que foi utilizada cânula nasal de alto fluxo pós-extubação como terapia-ponte para a extubação. O Índice de Oxigenação Respiratória foi calculado para avaliar o risco de falha pós-extubação de cânula nasal de alto fluxo.
Incluíram-se no estudo 162 pacientes. Destes, 23,5% apresentaram falha de cânula nasal de alto fluxo. O Índice de Oxigenação Respiratória foi significativamente menor em pacientes que tiveram falha de cânula nasal de alto fluxo. A mediana (IQ 25 - 75%) foi de 10,0 (7,7 - 14,4) versus 12,6 (10,1 - 15,6), com p = 0,006. O Índice de Oxigenação Respiratória > 4,88 apresentou razão de chances bruta de 0,23 (IC95% 0,17 - 0,30) e RC ajustada de 0,89 (IC95% 0,81 - 0,98) estratificada por gravidade e comorbidade. Após a análise de regressão logística, o Índice de Oxigenação Respiratória apresentou razão de chances ajustada de 0,90 (IC95% 0,82 - 0,98; p = 0,026). A área sob a curva Receiver Operating Characteristic para falha de extubação foi de 0,64 (IC95% 0,53 - 0,75; p = 0,06). O Índice de Oxigenação Respiratória não apresentou diferenças entre pacientes que sobreviveram e que morreram durante internação na unidade de terapia intensiva.
O Índice de Oxigenação Respiratória é uma ferramenta acessível para identificar pacientes em risco de falha no tratamento pós-extubação com cânulas nasais de alto fluxo. Estudos prospectivos são necessários para ampliar a utilidade nesse cenário.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(3):374-379
DOI 10.5935/0103-507X.20220114-en
Comparar as percepções de familiares de pacientes com as percepções de profissionais de saúde a respeito de um modelo de visitação flexível em unidades de terapia intensiva.
Este estudo transversal foi realizado de setembro a dezembro de 2018 com familiares de pacientes e membros de equipe de assistência ao paciente de uma unidade de terapia intensiva clínico-cirúrgica com um modelo de visitação flexível (12 horas ao dia). A avaliação da política de visitação flexível foi realizada por meio de um instrumento de visitação aberto composto de 22 perguntas divididas em três domínios (avaliação do estresse familiar, fornecimento de informações e interferência no trabalho da equipe).
Foram analisados 95 familiares acompanhantes e 95 membros da equipe de assistência. As percepções dos familiares quanto à diminuição da ansiedade e do estresse com visitas flexíveis foram superiores às percepções da equipe (91,6% versus 58,9%; p < 0,001). A família também teve uma percepção mais positiva quanto ao fornecimento de informações (86,3% versus 64,2%; p < 0,001). A equipe de assistência acreditava que a presença do parente dificultava a assistência ao paciente e causava interrupções de trabalho (46,3% versus 6,3%; p < 0,001).
Os familiares e as equipes da unidade de terapia intensiva têm percepções diferentes sobre visitas flexíveis na unidade de terapia intensiva. Entretanto, predomina uma visão positiva entre os membros da família em relação à percepção da diminuição da ansiedade e do estresse e maiores informações e contribuições para a recuperação do paciente.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(2):227-236
DOI 10.5935/0103-507X.20220020-en
Determinar as práticas atuais de cuidados intensivos em Portugal quanto à analgesia, à sedação e ao delirium, com base em uma comparação entre as atividades relatadas e a prática clínica diária.
Inquérito nacional em que os médicos foram convidados a relatar sua prática em relação à analgesia, à sedação e ao delirium em unidades de terapia intensiva. Para analisar a prática diária, realizou-se um estudo de prevalência pontual.
Responderam ao inquérito 117 médicos, e 192 pacientes foram incluídos no estudo de prevalência pontual. O inquérito e o estudo de prevalência mostraram uma avaliação generalizada do nível de sedação (92%; 88,5%). A Escala de Agitação e Sedação de Richmond foi a mais reportada e utilizada (41,7%; 58,2%), e o propofol foi o medicamento mais reportado e utilizado (91,4%; 58,6%). A prescrição de midazolam foi relatada por 68,4% dos respondentes, mas o estudo de prevalência pontual revelou a sua utilização em 27,6%.
Os resultados do inquérito não refletiram com precisão as práticas habituais nas unidades de terapia intensiva portuguesas, tal como relatado no estudo de prevalência pontual. Devem ser feitos esforços principalmente para evitar o excesso de sedação e promover a avaliação do delirium.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(2):287-294
DOI 10.5935/0103-507X.20220027-en
A cetamina é única entre os anestésicos e analgésicos. A droga é um anestésico geral de ação rápida que produz um estado anestésico caracterizado por analgesia profunda, reflexos faríngeolaríngeos preservados, tônus músculo esquelético normal ou ligeiramente aumentado, estimulação cardiovascular e respiratória e, ocasionalmente, insuficiência respiratória transitória e mínima. Estudos demonstraram a eficácia de seu uso em anestesia, na dor, em cuidados paliativos e em cuidados intensivos. Recentemente, tem sido empregada para dores pós-operatórias e crônicas, como coadjuvante em psicoterapia, como tratamento para depressão e transtorno de estresse pós-traumático, como sedativo para procedimentos cirúrgicos e como tratamento para condições clínicas respiratórias e/ou neurológicas. Apesar de ser um medicamento seguro e amplamente utilizado, muitos médicos, como intensivistas e emergencistas, não estão cientes das aplicações clínicas atuais da cetamina. O objetivo desta revisão bibliográfica narrativa é apresentar aspectos teóricos e práticos das aplicações clínicas da cetamina em ambientes de unidade de terapia intensiva e serviços de emergência.