Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(2):287-294
DOI 10.5935/0103-507X.20220027-en
A cetamina é única entre os anestésicos e analgésicos. A droga é um anestésico geral de ação rápida que produz um estado anestésico caracterizado por analgesia profunda, reflexos faríngeolaríngeos preservados, tônus músculo esquelético normal ou ligeiramente aumentado, estimulação cardiovascular e respiratória e, ocasionalmente, insuficiência respiratória transitória e mínima. Estudos demonstraram a eficácia de seu uso em anestesia, na dor, em cuidados paliativos e em cuidados intensivos. Recentemente, tem sido empregada para dores pós-operatórias e crônicas, como coadjuvante em psicoterapia, como tratamento para depressão e transtorno de estresse pós-traumático, como sedativo para procedimentos cirúrgicos e como tratamento para condições clínicas respiratórias e/ou neurológicas. Apesar de ser um medicamento seguro e amplamente utilizado, muitos médicos, como intensivistas e emergencistas, não estão cientes das aplicações clínicas atuais da cetamina. O objetivo desta revisão bibliográfica narrativa é apresentar aspectos teóricos e práticos das aplicações clínicas da cetamina em ambientes de unidade de terapia intensiva e serviços de emergência.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(1):102-110
DOI 10.5935/0103-507X.20210011
Realizar adaptação transcultural para o Brasil da Richmond Agitation-Sedation Scale (RASS) para avaliação da sedação em terapia intensiva pediátrica
Processo de adaptação transcultural incluindo as etapas de equivalência conceitual, de itens, semântica e operacional, de acordo com recomendações atuais.
Pré-testes, divididos em duas etapas, incluíram 30 profissionais da unidade de terapia intensiva pediátrica de um hospital universitário, que aplicaram a RASS traduzida em pacientes de 29 dias a 18 anos. Os pré-testes mostraram Índice de Validade de Conteúdo acima de 0,90 para todos os itens: 0,97 na primeira etapa de pré-testes e 0,99 na segunda.
A adaptação transcultural da RASS para o português do Brasil resultou em versão com excelente compreensão e aceitabilidade em cenário de terapia intensiva pediátrica. Estudos de confiabilidade e de validade devem ser realizados para avaliar as propriedades psicométricas da versão adaptada para o português do Brasil da RASS.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(2):164-170
DOI 10.5935/0103-507X.20190028
Avaliar a satisfação dos doentes internados em uma unidade de cuidado intensivo com o diário e analisar possíveis pontos de melhoria deste instrumento.
Estudo retrospectivo observacional, decorrido entre março de 2014 e julho de 2017, em uma unidade de cuidado intensivo polivalente de um hospital distrital. Foi iniciado o diário em doentes sedados por 3 ou mais dias. Depois de 3 meses da alta, foi avaliada a satisfação deles por meio de um questionário. O doente que concordou com as cinco afirmações que visavam avaliar esclarecimento, preenchimento de lacunas de memória, ajuda na recuperação, tranquilização e recomendação da intervenção foi definido como satisfeito.
Foram incluídos 110 doentes, dos quais 55 responderam o questionário. Destes, 36 (65,5%) foram classificados como satisfeitos. Cada item teve uma resposta positiva em mais de 74% dos casos. Sugeriram o aumento do número de fotografias 60% dos participantes. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na análise de subgrupos (idade, sexo, tempo de sedação e ventilação, tempo de diário, gravidade à admissão, delirium, depressão ou ansiedade na unidade de cuidado intensivo).
A maioria dos doentes mostrou-se satisfeita com o diário, sugerindo, no entanto, o aumento do número de fotografias.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2018;30(1):42-49
DOI 10.5935/0103-507X.20180009
Avaliar a validade e a confiabilidade da versão brasileira da Behavioral Pain Scale (BPS-Br) em vítimas de traumatismo craniencefálico.
Estudo observacional, prospectivo, de medidas repetidas e pareadas, realizado em duas unidades de terapia intensiva (clínica e cirúrgica) de um hospital geral de grande porte. A amostra por conveniência foi composta por vítimas de traumatismo craniencefálico moderado ou grave, penetrante ou fechado, adultos, sedados e mecanicamente ventilados. Foram realizadas 432 observações por pares de avaliadores independentes, simultaneamente, antes da limpeza do olho, durante a limpeza do olho, durante a aspiração traqueal e após a aspiração traqueal. Foram coletados dados sociodemográficos, clínicos, relacionados ao trauma, sedoanalgesia e parâmetros fisiológicos (frequência cardíaca, pressão arterial sistólica e diastólica). A validade discriminante foi verificada pelo teste de Friedman e Wilcoxon por pares. Utilizaram-se o coeficiente de correlação intraclasse e coeficiente de Kappa de Cohen para avaliar a confiabilidade. O teste de correlação de Spearman foi utilizado para verificar a associação entre variáveis clínicas e os escores da BPS-Br durante a aspiração traqueal.
Houve elevação significativa dos parâmetros fisiológicos durante a aspiração traqueal, porém sem correlação com os escores de BPS-Br. A dor foi significativamente mais intensa durante a aspiração traqueal (p < 0,005). Foi evidenciada satisfatória concordância interobservadores, com coeficiente de correlação intraclasse de 0,95 (0,90 - 0,98) e Kappa de 0,70.
Os escores da BPS-Br elevaram-se durante a aspiração traqueal. A versão brasileira da escala mostrou-se válida e confiável para avaliação da dor em vítimas de traumatismo craniencefálico submetidos à aspiração traqueal.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2014;26(2):122-129
DOI 10.5935/0103-507X.20140018
Investigar a relação entre sedação e as memórias relatadas por pacientes submetidos à ventilação mecânica após a alta da unidade de terapia intensiva.
Estudo de coorte prospectivo, observacional, realizado com pacientes submetidos à ventilação mecânica e que permaneceram por mais de 24 horas na unidade de terapia intensiva. Dados clínicos e de sedação foram pesquisados em prontuários, e os dados referentes às memórias do paciente foram coletados por meio de um instrumento validado para esse fim. As avaliações foram realizadas 3 meses após a alta da unidade de terapia intensiva.
Dos 128 pacientes avaliados, a maioria (84,4%) relatou lembranças do período de internação na unidade de terapia intensiva, prevalecendo uma combinação de eventos reais e ilusórios. Pacientes que permaneceram sedados (67,2%), com sedação profunda (RASS -4 e -5) durante um período maior do que 2 dias e que apresentaram agitação psicomotora (33,6%) foram mais suscetíveis a apresentarem memórias ilusórias (p>0,001).
A probabilidade de os pacientes apresentarem memórias de ilusão foi maior naqueles com sedação profunda. A sedação, portanto, parece ser um fator adicional que contribuiu para o desenvolvimento de memórias ilusórias em pacientes gravemente enfermos e submetidos à ventilação mecânica.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2013;25(3):188-196
DOI 10.5935/0103-507X.20130034
A sedação profunda em pacientes gravemente enfermos se associa a uma maior duração da ventilação mecânica e à permanência mais longa na unidade de terapia intensiva. Diversos protocolos foram utilizados para melhorar esses desfechos. Implantamos e avaliamos um protocolo de sedação baseado em analgesia, direcionado por objetivos e cuidado por enfermeiros, em pacientes gravemente enfermos submetidos à ventilação mecânica.
Realizamos um estudo multicêntrico prospectivo em duas fases (antes e depois), que envolveu 13 unidades de terapia intensiva localizadas no Chile. Após uma fase observacional (grupo observacional, N=155), delineamos, implantamos e avaliamos um protocolo de sedação cuidado por enfermeiros, direcionado por objetivos (grupo de intervenção, N=132) para tratar pacientes que necessitaram de ventilação mecânica por mais do que 48 horas. O parâmetro primário de avaliação foi a obtenção de dias livres de ventilador até o dia 28.
No grupo de intervenção, a proporção de pacientes com sedação profunda ou coma diminuiu de 55,2 para 44,0%. A incidência de agitação não se alterou entre os períodos, permanecendo em cerca de 7%. Dias livres de ventilador até o dia 28, permanência na unidade de terapia intensiva e mortalidade foram similares em ambos os grupos. Após 1 ano, a presença de sintomas de desordem de estresse pós-traumático nos sobreviventes foi similar entre os grupos.
Delineamos e implantamos no Chile um protocolo de sedação baseado em analgesia, direcionado por objetivos e cuidado por enfermeiros. Embora não se tenha observado melhora nos principais desfechos, observamos que o presente protocolo foi seguro e factível, e que resultou em períodos mais curtos de sedação profunda, sem aumento da agitação.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2008;20(4):344-348
DOI 10.1590/S0103-507X2008000400005
OBJETIVO: O objetivo principal deste estudo foi comparar o desempenho das escalas de sedação de Ramsay e Richmond em pacientes críticos sob ventilação mecânica em um hospital universitário. MÉTODOS: Estudo prospectivo onde foram incluídos todos os pacientes sob ventilação mecânica com pelo menos 48 horas de internação, durante quatro meses, totalizando 45 pacientes. Foram avaliados diariamente a modalidade de sedação, dose dos sedativos e analgésicos e o nível de sedação através das escalas de Ramsay e Richmond. O teste T de Student, os índices de correlação de Pearson e Spearman, e a elaboração de curvas Receiver Operating Characteristic (ROC) foram utilizados para a análise estatística. RESULTADOS: A mortalidade geral observada foi de 60%. Nesta série, o tempo de sedação e a dose de sedativos utilizada não se correlacionaram com a mortalidade. Sedação profunda (Ramsay > 4 ou Richmond < -3) correlacionou-se positivamente com uma maior probabilidade de morte, com uma área sob a curva (ASC) > 0,78. Níveis adequados de sedação (Ramsay 2 a 4 ou Richmond 0 a -3) correlacionaram-se sensivelmente à probabilidade de sobrevivência, com uma ASC > 0,80. Em 63 evoluções (8,64%) foram observados níveis baixos de sedação, porém não se evidenciou nenhuma correlação entre a ocorrência de agitação e prognósticos desfavoráveis. Houve uma boa correlação entre as escalas Ramsay e Richmond (Pearson > 0,810 - p<0,0001). CONCLUSÃO: Neste estudo, as escalas de Ramsay e Richmond mostraram-se equivalentes para a avaliação de sedações profunda, insuficiente e adequada e ambos demonstraram boa correlação com mortalidade em pacientes excessivamente sedados.