Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(1):185-196
DOI 10.5935/0103-507X.20220013-en
Embora a PaO2/FiO2 derivada da gasometria arterial continue sendo o padrão-ouro do diagnóstico de insuficiência respiratória aguda, a SpO2/FiO2 tem sido investigada como potencial substituta. Esta revisão narrativa apresenta o estado da literatura pré-clínica e clínica sobre a SpO2/FiO2 como possível substituta da PaO2/FiO2 e para uso como marcador diagnóstico e prognóstico; ainda, é fornecida uma visão geral da oximetria de pulso e suas limitações, além da avaliação da utilidade da SpO2/ FiO2 como substituta da PaO2/FiO2 em pacientes com COVID-19. Ao todo, foram encontrados 49 estudos comparando SpO2/FiO2 e PaO2/ FiO2 com base em uma estratégia de pesquisa mínima. A maioria dos estudos foi realizada em recémnascidos, alguns foram realizados em adultos com síndrome do desconforto respiratório agudo, e outros foram realizados em outros cenários clínicos (incluindo poucos em pacientes com COVID-19). Há certa evidência de que os critérios de SpO2/FiO2 podem substituir a PaO2/FiO2 em diferentes cenários clínicos. Isso é reforçado pelo fato de que devem ser evitados procedimentos invasivos desnecessários em pacientes com insuficiência respiratória aguda. É inegável que os oxímetros de pulso estão cada vez mais difundidos e podem proporcionar um monitoramento sem custos. Portanto, substituir a PaO2/FiO2 pela SpO2/FiO2 pode permitir que instalações com recursos limitados diagnostiquem a insuficiência respiratória aguda de maneira objetiva.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(2):312-319
DOI 10.5935/0103-507X.20210040
Estudos clínicos randomizados em terapia intensiva priorizam desfechos focados em doença e não desfechos centrados no paciente. Uma mudança de paradigma considerando a avaliação de medidas após a alta hospitalar e medidas focadas na qualidade de vida e em sintomas comuns, como dor e dispneia, poderiam refletir melhor os desejos de pacientes e de seus familiares. No entanto, barreiras relacionadas à sistematização da interpretação desses desfechos, a heterogeneidade de instrumentos de medida e a maior dificuldade na execução dos estudos, até o momento, parecem dificultar essa mudança. Além disso, a participação conjunta de pacientes, familiares, pesquisadores e clínicos na definição dos desfechos dos estudos ainda não é uma realidade.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(1):119-124
DOI 10.5935/0103-507X.20210013
Avaliar o desempenho do Pediatric Risk of Mortality (PRISM) III e do Pediatric Index of Mortality (PIM) 2 em unidade de terapia intensiva pediátrica.
Estudo de coorte retrospectivo. Os dados retrospectivos foram coletados dos prontuários de todos os pacientes admitidos na unidade de terapia intensiva pediátrica de um hospital infantil oncológico, entre janeiro de 2017 a junho de 2018.
A média do PRISM III foi de 15 e do PIM 2 de 24%. Dos 338 pacientes estudados, 62 (18,34%) morreram. A mortalidade estimada pelo PRISM III foi de 79,52 (23,52%) e pelo PIM 2 de 80,19 (23,72%) pacientes, correspondendo a taxa padronizada de mortalidade (intervalo de confiança de 95%) de 0,78 para o PRISM II e 0,77 para o PIM 2. O teste de ajuste de Hosmer-Lemeshow obteve qui-quadrado de 11,56, 8df, com p = 0,975, para PRISM III, e qui-quadrado de 0,48, 8df, p = 0,999, para o PIM 2. Foi obtida área sob a curva Característica de Operação do Receptor de 0,71 para o PRISM III e 0,76 para o PIM 2.
Os dois escores superestimaram a mortalidade e demonstraram poder regular de discriminação entre sobreviventes e não sobreviventes. Devem ser desenvolvidos modelos para quantificar a gravidade de pacientes pediátricos com câncer em unidade de terapia intensiva pediátrica e predizer o risco de mortalidade que contemplem suas peculiaridades.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2020;32(4):521-527
DOI 10.5935/0103-507X.20200089
Comparar o desempenho do Simplified Acute Physiology Score 3 (SAPS 3) em pacientes com e sem tumor sólido admitidos à unidade de terapia intensiva de um hospital oncológico.
Realizamos a análise de uma coorte retrospectiva em nossa base de dados administrativa da primeira admissão de pacientes adultos à unidade de terapia intensiva entre 2012 e 2016. Os pacientes foram classificados segundo a presença de tumor sólido. Avaliamos a discriminação utilizando a área sob a curva Características de Operação do Receptor (ASC COR) e a calibração com uso da abordagem com faixa de calibração.
Incluímos 7.254 pacientes (41,5% tinham câncer e 12,1% morreram durante a hospitalização). Os pacientes oncológicos tiveram maior mortalidade hospitalar do que os não oncológicos (respectivamente, 14,1% e 10,6%; p < 0,001). A discriminação do SAPS 3 foi melhor para os pacientes oncológicos (ASC COR = 0,85) do que para os não oncológicos (ASC COR = 0,79) (p < 0,001). Após aplicar a abordagem com faixa de calibração para pacientes oncológicos, o SAPS 3 atingiu as taxas médias observadas com intervalo de confiança de 95%. Em pacientes não oncológicos, o SAPS 3 superestimou a mortalidade nos pacientes com risco baixo a moderado. A calibração foi afetada pelo tempo apenas nos casos de pacientes não oncológicos.
O SAPS 3 teve desempenho distinto para pacientes oncológicos e não oncológicos em nossa coorte de um único centro, observando-se variação (principalmente da calibração) ao longo do tempo. Esses achados devem ser levados em consideração ao avaliar o desempenho de escore de doença grave.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2020;32(2):229-234
DOI 10.5935/0103-507X.20200041
Mostrar o quadro clínico e os desfechos de uma coorte de pacientes críticos com câncer esofágico.
Conduzimos um estudo multicêntrico retrospectivo que incluiu pacientes com câncer esofágico admitidos a unidades de terapia intensiva em razão de doença aguda entre setembro de 2009 e dezembro de 2017. Colhemos os dados demográficos e as características clínicas de todos os pacientes incluídos, assim como as medidas de suporte a órgãos e os desfechos no hospital. Realizamos uma análise de regressão logística para identificar os fatores associados de forma independente com mortalidade hospitalar.
Dentre os 226 pacientes incluídos no estudo, 131 (58,0%) faleceram antes de receber alta hospitalar. O carcinoma espinocelular foi mais frequente do que o adenocarcinoma, e 124 (54,9%) pacientes tinham câncer metastático. As principais razões para admissão foram sepse/choque séptico e insuficiência respiratória aguda. Uso de ventilação mecânica (RC = 6,18; IC95% 2,86 - 13,35) e doença metastática (RC = 7,10; IC95% 3,35 - 15,05) tiveram associação independente com mortalidade hospitalar.
Nesta coorte de pacientes com câncer esofágico admitidos à unidades de terapia intensiva em razão de doença aguda, a taxa de mortalidade hospitalar foi muito elevada. A necessidade de utilizar ventilação mecânica invasiva e a presença de doença metastática foram fatores independentes de prognóstico e devem ser levados em conta nas discussões a respeito dos desfechos destes pacientes em curto prazo.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(4):497-503
DOI 10.5935/0103-507X.20190087
Avaliar se os achados eletromiográficos podem prever a mortalidade na unidade de terapia intensiva em pacientes sépticos sob ventilação mecânica e sedação profunda.
Conduziu-se estudo prospectivo de coorte, que inscreveu, de forma consecutiva, pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo moderada a grave (pressão parcial de oxigênio/fração inspirada de oxigênio < 200) com idade ≥ 18 anos, dependentes de ventilação mecânica por 7 ou mais dias, e mantidos sob sedação profunda (escala de agitação e sedação de Richmond ≤ -4). Realizaram-se estudos eletromiográficos dos membros inferiores em todos os pacientes entre o sétimo e o décimo dia de ventilação mecânica. Registraram-se os potenciais de ação dos nervos sensitivos nos nervos mediano e sural, bem como os potenciais de ação compostos para os nervos mediano (músculo abdutor curto do polegar) e fibular comum (músculo extensor curto dos dedos).
Foram inscritos 17 pacientes durante os 7 meses de duração do estudo. Nove pacientes (53%) tinham sinais eletromiográficos de miopatia ou polineuropatia da doença crítica. O risco de óbito durante o tempo de permanência na unidade de terapia intensiva foi mais elevado nos pacientes com sinais eletromiográficos de miopatia ou polineuropatia da doença crítica, em comparação com aqueles sem esses diagnósticos (77,7% versus 12,5%; log-rank p = 0,02).
A presença de sinais eletromiográficos de miopatia ou polineuropatia da doença crítica, entre o sétimo e décimo dias de ventilação mecânica, pode se associar com mortalidade na unidade de terapia intensiva em pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo moderada a grave mantidos sob sedação profunda, nos quais não é possível proceder à avaliação clínica da força muscular.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(3):386-392
DOI 10.5935/0103-507X.20190051
A melhoria da qualidade da ressuscitação cardiopulmonar vem reduzindo a mortalidade dos indivíduos atendidos em parada cardiorrespiratória. Porém, os sobreviventes apresentam risco elevado de dano cerebral grave em caso de retorno à circulação espontânea. Dados sugerem que paradas cardiorrespiratórias, que ocorram em pacientes criticamente doentes com ritmos cardíacos não chocáveis, apresentem somente 6% de chance de retorno à circulação espontânea e, destes, somente um terço consiga recuperar sua autonomia. Optaríamos, assim, pela realização de um procedimento em que a chance de sobrevida é mínima, e os sobreviventes apresentam risco de aproximadamente 70% de morte hospitalar ou dano cerebral grave e definitivo? Valeria a pena discutir se este paciente é ou não ressuscitável, em caso de parada cardiorrespiratória? Esta discussão traria algum benefício ao paciente e a seus familiares? As discussões avançadas de não ressuscitação se baseiam no princípio ético do respeito pela autonomia do paciente, pois o desejo dos familiares e dos médicos, muitas vezes, não se correlaciona adequadamente aos dos pacientes. Não somente pela ótica da autonomia, as discussões avançadas podem ajudar a equipe médica e assistencial a anteciparem problemas futuros, fazendo-os planejar melhor o cuidado dos enfermos. Ou seja, nossa opinião é a de que discussões sobre ressuscitação ou não dos pacientes criticamente doentes devam ser realizadas em todos os casos internados na unidade de terapia intensiva logo nas primeiras 24 a 48 horas de internação.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2018;30(4):453-459
DOI 10.5935/0103-507X.20180062
Determinar o desempenho da dosagem do receptor ativador de plasminogênio tipo uroquinase solúvel quando da alta da unidade de terapia intensiva para predição da mortalidade após permanência na mesma unidade.
Durante 24 meses conduziu-se um estudo prospectivo observacional de coorte em uma unidade de terapia intensiva polivalente de oito leitos. Colheram-se os seguintes dados: APACHE II, SOFA, níveis de proteína C-reativa e receptor ativador de plasminogênio tipo uroquinase solúvel, além de contagem de leucócitos no dia da alta da unidade de terapia intensiva, em pacientes que sobreviveram à permanência na unidade de terapia intensiva.
Durante este período, incluíram-se no estudo 202 pacientes; 29 (18,6%) morreram após alta da unidade de terapia intensiva. Os não sobreviventes eram mais idosos e tinham enfermidades mais graves quando admitidos à unidade de terapia intensiva, com escores de severidade mais elevados, e necessitaram de vasopressores por mais tempo do que os que sobreviveram. As áreas sob a curva Característica de Operação do Receptor para SOFA, APACHE II, proteína C-reativa, contagem de leucócitos e receptor ativador de plasminogênio tipo uroquinase solúvel, no momento da alta da unidade de terapia intensiva, avaliadas como marcadores de prognóstico de morte hospitalar, foram, respectivamente, 0,78 (IC95% 0,70 - 0,86); 0,70 (IC95% 0,61 - 0,79); 0,54 (IC95% 0,42 - 0,65); 0,48 (IC95% 0,36 - 0,58); 0,68 (IC95% 0,58 - 0,78). O SOFA associou-se de forma independente com risco mais elevado de morte no hospital (OR 1,673; IC95% 1,252 - 2,234), assim como para mortalidade após 28 dias (OR 1,861; IC95% 1,856 - 2,555) e mortalidade após 90 dias (OR 1,584; IC95% 1,241 - 2,022).
A dosagem do receptor ativador de plasminogênio tipo uroquinase solúvel na alta unidade de terapia intensiva teve um valor prognóstico fraco de mortalidade após a permanência nesta unidade.