Resumo
Crit Care Sci. 2023;35(2):147-155
DOI 10.5935/2965-2774.20230422-pt
Avaliar os fatores associados aos desfechos neuropsiquiátricos de longo prazo, incluindo biomarcadores, medidos após a alta da unidade de terapia intensiva.
Foi realizado um estudo de coorte prospectivo com 65 sobreviventes de unidades de terapia intensiva. A avaliação cognitiva foi realizada por meio do Miniexame do Estado Mental; os sintomas de ansiedade e depressão foram avaliados por meio da Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão, e o transtorno de estresse pós-traumático foi avaliado pela Escala de Impacto do Evento-6. Os níveis plasmáticos de beta amiloide (1-42), beta amiloide (1-40), interleucina 10, interleucina 6, interleucina 33, interleucina 4, interleucina 5, fator de necrose tumoral alfa, proteína C-reativa e fator neurotrófico derivado do cérebro foram medidos na alta da unidade de terapia intensiva.
Das variáveis associadas à terapia intensiva, apenas o delirium foi relacionado de forma independente à ocorrência de comprometimento cognitivo de longo prazo. Além disso, níveis mais altos de interleucina 10 e interleucina 6 foram associados à disfunção cognitiva. Apenas a interleucina 6 foi associada de forma independente à depressão. A ventilação mecânica, os níveis de interleucina 33 e os níveis de proteína C-reativa foram associados de forma independente à ansiedade. Nenhuma variável foi associada de forma independente ao transtorno de estresse pós-traumático.
A disfunção cognitiva, bem como os sintomas de depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático, estão presentes em pacientes que sobrevivem a uma doença grave, e alguns desses desfechos estão associados aos níveis de biomarcadores inflamatórios medidos na alta da unidade de terapia intensiva.
Resumo
Crit Care Sci. 2023;35(1):31-36
DOI 10.5935/2965-2774.20230113-pt
Avaliar o efeito de um portal educativo na satisfação e nos sintomas de ansiedade e depressão de familiares de pacientes adultos em estado crítico.
Inserimos uma análise de acesso a um portal num estudo de coorte realizado em unidades de terapia intensiva com horários de visita flexíveis no Brasil. Os familiares foram orientados a acessar um portal educativo concebido para os ajudá-los a compreender os processos e as emoções associados à internação em unidades de terapia intensiva. Os sujeitos foram avaliados quanto às informações basais nas primeiras 48 horas após a inclusão e quanto aos desfechos até 7 dias após a alta do paciente da unidade de terapia intensiva, morte ou até o 30º dia do estudo. Os principais desfechos foram a satisfação por meio do Inventário das Necessidades da Família em Cuidados Intensivos e a presença de sintomas de ansiedade e depressão utilizando a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão.
Avaliaram-se 532 familiares durante o período do estudo. Destes, 61 (11,5%) acessaram o portal. Após ajustes, os familiares que acessaram o portal apresentaram médias significativamente melhores dos valores do Inventário de Necessidades da Família em Cuidados Intensivos (152,8 versus 145,2; p = 0,01) e menor prevalência de provável ansiedade clínica (razão de prevalência de 0,35; IC95% 0,14 - 0,89) do que familiares que não acessaram o portal. Não houve diferença em relação aos sintomas de depressão.
O acesso a um portal educativo foi associado a maior satisfação familiar com os cuidados e menor prevalência de ansiedade clínica.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(4):499-506
DOI 10.5935/0103-507X.20220080-en
Avaliar prevalência e fatores associados à depressão em familiares de pessoas hospitalizadas em unidades de terapia intensiva.
Estudo transversal, desenvolvido com 980 familiares de pacientes internados nas unidades de terapia intensiva de um hospital público de grande porte no interior da Bahia. A depressão foi mensurada pelo Patient Health Questionnaire-8. O modelo multivariado foi composto pelas seguintes variáveis: sexo e idade do paciente, sexo e idade do familiar, escolaridade, religião, residir com o familiar, problema psíquico prévio e ansiedade.
A depressão apresentou prevalência de 43,5%. Na análise multivariada, o modelo com melhor representatividade indicou que fatores associados à maior prevalência de depressão foram ser do sexo feminino (39%), idade menor que 40 anos (26%) e problema psíquico prévio (38%). A maior escolaridade se associou a uma prevalência de depressão 19% menor em familiares.
O aumento na prevalência de depressão esteve associado a sexo feminino, idade menor de 40 anos e problemas psíquicos prévios. Tais elementos devem ser valorizados nas ações direcionadas aos familiares de pessoas internadas na terapia intensiva.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2020;32(3):458-467
DOI 10.5935/0103-507X.20200076
Realizar uma revisão sistemática para sumarizar o conhecimento relativo à prevalência de burnout entre médicos atuantes na unidade de terapia intensiva.
Conduzimos uma revisão sistemática nas bases de dados MEDLINE e PubMed® (última atualização em 4 de fevereiro de 2019), com o objetivo de resumir a evidência a respeito de burnout entre médicos atuantes em unidades de terapia intensiva. Incluímos todos os estudos que relatavam burnout em trabalhadores na unidade de terapia intensiva, segundo o Inventário de Burnout de Maslach e, a seguir, triamos os estudos quanto a dados relativos a burnout especificamente em médicos atuantes na unidade de terapia intensiva.
Encontramos 31 estudos que descreviam burnout em membros da equipe da unidade de terapia intensiva e incluíam diferentes perfis de profissionais de saúde. Dentre estes, cinco estudos se focalizavam apenas em médicos, e 12 outros investigavam burnout em uma mescla de profissionais atuantes na unidade de terapia intensiva, mas forneciam dados à parte relativos aos médicos. A prevalência de burnout teve grande variação entre os estudos (variando entre 18% e 49%), porém diversas discrepâncias metodológicas, dentre elas os critérios de corte para definição de burnout e variabilidade da escala de Likert, impediram uma análise agrupada significativa.
A prevalência da síndrome de burnout entre médicos atuantes na unidade de terapia intensiva é relativamente alta, porém heterogeneidades metodológicas significantes exigem precauções na interpretação de nossos resultados. Os níveis mais baixos de burnout relatados parecem mais elevados do que os identificados em estudos que investigaram uma mescla de profissionais da unidade de terapia intensiva. Há uma necessidade urgente de consenso que recomende o uso consistente do Inventário de Burnout de Maslach para triar a presença de burnout a fim de fornecer dados precisos a respeito de burnout entre médicos atuantes na unidade de terapia intensiva.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2020;32(3):381-390
DOI 10.5935/0103-507X.20200066
Avaliar a frequência de síndrome de burnout grave em profissionais de terapia intensiva e correlacioná-la com o engajamento com o trabalho.
Foi distribuído um questionário autoaplicável que incluía o Inventário de Burnout de Maslach, a Escala de Depressão Ansiedade e Estresse e o questionário Gallup. Todas as análises foram estratificadas por local de trabalho (unidade de terapia intensiva ou unidade semi-intensiva) e por grupo profissional (enfermeiros versus médicos versus fisioterapeutas).
Entre fevereiro de 2017 e junho de 2017, 206 dos 325 profissionais convidados (63,4%) responderam aos questionários. Destes, 55 eram médicos (26,7%), 88 eram fisioterapeutas (42,7%) e 63 eram enfermeiros (30,6%). A frequência de burnout grave foi de 34,3% (27,9 - 41,4%), e não se identificaram diferenças entre os grupos profissionais ou locais de trabalho. A frequência de casos graves ou muito graves de depressão, ansiedade ou estresse foi de 12,9%, 11,4% e 10,5%, respectivamente. O escore mediano (intervalo interquartil) observado pelo questionário Gallup foi 41 (34 - 48), e não se observaram diferenças entre os grupos profissionais ou locais de trabalho. Houve correlação negativa entre burnout e engajamento com o trabalho (r = -0,148; p = 0,035).
A frequência de burnout grave foi elevada entre os profissionais de saúde que trabalham na unidade de terapia intensiva e na unidade semi-intensiva. Existe uma correlação negativa entre burnout e engajamento com o trabalho.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(2):147-155
DOI 10.5935/0103-507X.20190024
Analisar a satisfação, a compreensão e os sintomas de ansiedade e depressão em familiares de pacientes admitidos na unidade de terapia intensiva.
O familiar do paciente com tempo de internação ≥ 72 horas foi convidado a participar do estudo, realizado em um hospital público. Foram respondidos questionários para avaliar a compreensão do diagnóstico, do tratamento e do prognóstico, e o suporte recebido na unidade de terapia intensiva. Também foram avaliadas as necessidades da família por meio da versão modificada do Critical Care Family Needs Inventory (CCFNI) e foi aplicada a Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS), para avaliar os sintomas de ansiedade e depressão.
Foram entrevistados 35 familiares em sua primeira semana de permanência na unidade de terapia intensiva. A maioria dos pacientes (57,1%) era do sexo masculino, com 54 ± 19 anos de idade. A sepse foi o principal motivo da internação na unidade de terapia intensiva (40%); a mediana do Simplified Acute Physiology Score (SAPS) 3 foi de 68 (48 - 77) e 51,4% faleceram na unidade de terapia intensiva. A maioria dos familiares era do sexo feminino (74,3%), filhos ou filhas dos pacientes (54,3%), com idade de 43,2 ± 14 anos. Foi observado que 77,1% dos familiares encontravam-se satisfeitos com a unidade de terapia intensiva. A incompreensão do prognóstico foi observada em 37,1% dos familiares. As informações claras e completas recebidas na unidade de terapia intensiva e o médico ser acessível tiveram correlação significativa com a satisfação geral da família. Foi grande a prevalência dos sintomas de ansiedade (60%) e depressão em (54,3%) nos familiares.
O sofrimento emocional dos familiares é grande durante a internação do paciente na unidade de terapia intensiva, embora a satisfação seja alta. As informações claras e completas dadas pelo intensivista e o suporte recebido na unidade de terapia intensiva têm correlação significativa com a satisfação dos familiares em um hospital público.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2018;30(4):405-413
DOI 10.5935/0103-507X.20180063
Avaliar a prevalência de incapacidades físicas, cognitivas e psiquiátricas, fatores associados e sua relação com qualidade de vida em pacientes sobreviventes de internação em unidades de terapia intensiva brasileiras.
Um estudo de coorte prospectivo multicêntrico está sendo conduzido em dez unidades de terapia intensiva adulto clínico-cirúrgicas representativas das cinco regiões geopolíticas do Brasil. Pacientes com idade ≥ 18 anos que receberam alta das unidades de terapia intensiva participantes e permaneceram internados na unidade de terapia intensiva por 72 horas ou mais, nos casos de internação clínica ou cirúrgica de urgência, e por 120 horas ou mais, nos casos de internação cirúrgica eletiva, serão incluídos de forma consecutiva. Estes pacientes serão seguidos por 1 ano, por meio de entrevistas telefônicas estruturadas 3, 6 e 12 meses pós-alta da unidade de terapia intensiva. Dependência funcional, disfunção cognitiva, sintomas de ansiedade e depressão, sintomas de estresse pós-traumático, qualidade de vida relacionada à saúde, re-hospitalizações e mortalidade em longo prazo serão avaliados como desfechos.
O presente estudo tem o potencial de contribuir para o conhecimento a respeito da prevalência e dos fatores associados à síndrome pós-cuidados intensivos na população de pacientes adultos sobreviventes de internação em unidades de terapia intensiva brasileiras. Ademais, a associação entre síndrome pós-cuidados intensivos e qualidade de vida relacionada à saúde poderá ser estabelecida.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2018;30(1):35-41
DOI 10.5935/0103-507X.20180004
Avaliar os efeitos do sexo e da condição de cônjuge nos sintomas de ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático em pacientes admitidos à unidade de terapia intensiva e em seus respectivos cônjuges.
Estudo prospectivo conduzido em uma unidade de terapia intensiva mista com 22 leitos em um hospital terciário, localizado na capital do Estado de São Paulo. Os pacientes e respectivos cônjuges foram inscritos 2 dias após a admissão à unidade de terapia intensiva. Foram entrevistados durante a permanência na unidade com utilização da ferramenta Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão. Após 30 e 90 dias da alta da unidade de terapia intensiva, os participantes foram avaliados em entrevista realizada por telefone com utilização das ferramentas Escala do Impacto do Evento e Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão.
No período compreendido entre março de 2011 e março de 2013, avaliamos 118 pacientes e seus respectivos cônjuges. O sexo feminino se associou com pontuações mais elevadas que a dos homens na subescala de ansiedade (p = 0,032) e de depressão (p = 0,034). Não se observou associação entre o sexo e sintomas de transtorno de estresse pós-traumático. No entanto, os cônjuges tiveram pontuações mais elevadas do que os pacientes (p = 0,001).
O sexo feminino se associou com ansiedade e depressão, enquanto os cônjuges foram mais vulneráveis que os pacientes aos sintomas de transtorno de estresse pós-traumático. Idade mais avançada e avaliações mais tardias também se associaram com pontuações mais baixas na Escala do Impacto do Evento.