Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(2):113-121
DOI 10.5935/0103-507X.20190018
Descrever a transferência de energia do ventilador mecânico para os pulmões; o acoplamento entre a transferência de oxigênio por oxigenação por membrana extracorpórea venovenosa (ECMO-VV) e o consumo de oxigênio do paciente; a remoção de dióxido de carbono com ECMO; e o efeito potencial da oxigenação venosa sistêmica na pressão arterial pulmonar.
Modelo matemático com cenários hipotéticos e utilização de simulações matemáticas por computador.
A transição de ventilação protetora para ventilação ultraprotetora em um paciente com síndrome da angústia respiratória aguda grave e complacência respiratória estática de 20mL/cmH2O reduziu a transferência de energia do ventilador para os pulmões de 35,3 para 2,6 joules por minuto. Em um paciente hipotético, hiperdinâmico e ligeiramente anêmico com consumo de oxigênio de 200mL/minuto, é possível atingir saturação arterial de oxigênio de 80%, ao mesmo tempo em que se mantém o equilíbrio entre a transferência de oxigênio pela ECMO e o consumo de oxigênio do paciente. O dióxido de carbono é facilmente removido e a pressão parcial de dióxido de carbono normal é facilmente obtida. A oxigenação do sangue venoso, por meio do circuito da ECMO, pode direcionar o estímulo da pressão parcial de oxigênio na vasoconstrição pulmonar por hipóxia para valores normais.
A ventilação ultraprotetora reduz amplamente a transferência de energia do ventilador para os pulmões. A hipoxemia grave no suporte com ECMO-VV pode ocorrer, a despeito do acoplamento entre a transferência de oxigênio, por meio da ECMO, e o consumo de oxigênio do paciente. A faixa normal de pressão parcial de dióxido de carbono é fácil de atingir. O suporte com ECMO-VV potencialmente alivia a vasoconstrição pulmonar hipóxica.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(2):122-128
DOI 10.5935/0103-507X.20190037
Avaliar o impacto da presença de sepse na mortalidade hospitalar após alta da unidade de terapia intensiva.
Ensaio retrospectivo, observacional, em centro único. Todos os pacientes que consecutivamente receberam alta vivos da unidade de terapia intensiva do Hospital Vila Franca de Xira (Portugal) entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2015 (N = 473) foram incluídos e acompanhados até o óbito ou alta do hospital. A mortalidade hospitalar após alta da unidade de terapia intensiva foi calculada para pacientes sépticos e não sépticos.
Um total de 61 pacientes (12,9%) faleceu no hospital após receber alta vivos da unidade de terapia intensiva. Esta taxa foi mais elevada entre os pacientes que tinham sepse quando da admissão (21,4%), enquanto a taxa de mortalidade hospitalar após alta da unidade de terapia intensiva para os demais pacientes foi aproximadamente a metade (9,3%), com p < 0,001. Outras características dos pacientes associadas com mortalidade foram idade avançada (p = 0,02), sexo masculino (p < 0,001), índice mais baixo de massa corporal (p = 0,02), nefropatia terminal (p = 0,04) e, quando da admissão à unidade de terapia intensiva, escore elevado segundo o Simplified Acute Physiology Score (SAPS II); p < 0,001, presença de choque (p < 0,001) e admissão por causas clínicas (p < 0,001). Desenvolvemos um modelo de regressão logística e identificamos os preditores independentes de mortalidade hospitalar após alta da unidade de terapia intensiva.
A admissão à unidade de terapia intensiva com diagnóstico de sepse se associa com maior risco de morrer no hospital, não apenas na unidade de terapia intensiva quanto também após a resolução do processo agudo e alta da unidade de terapia intensiva.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(2):138-146
DOI 10.5935/0103-507X.20190031
Avaliar a qualidade de unidades de terapia intensiva adulto.
Estudo populacional, transversal, observacional, analítico, do tipo avaliação para gestão, no Estado do Maranhão. Um instrumento de avaliação foi aplicado, atribuindo pontuações para cada serviço (máximo 124). As unidades foram categorizadas como insuficientes (< 50% da pontuação máxima), regulares (≥ 50% e < 80% da pontuação máxima) ou suficientes (≥ 80% da pontuação máxima).
Das 26 unidades de terapia intensiva do Estado, 23 foram avaliadas; 15 (65,2%) estavam localizadas na capital, e 14 (60,9%) eram públicas. A pontuação final média foi de 67,2 (54,2% do máximo possível). O pior desempenho ocorreu nos processos (50,9%), nas unidades fora da capital (p = 0,037) e em hospitais com número de leitos ≤ 68 (p = 0,027). O resultado da avaliação consistiu na categorização dos serviços em função do total geral de pontos alcançados, a saber: 8 (34,8%) serviços receberam avaliação insuficiente, 13 (56,5%) regular e 2 (8,7%) suficiente.
A maioria das unidades do estudo recebeu avaliação regular. Tais serviços necessitam ser melhor qualificados. As prioridades são os processos de unidades localizadas fora da capital e em hospitais de pequeno porte.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(2):147-155
DOI 10.5935/0103-507X.20190024
Analisar a satisfação, a compreensão e os sintomas de ansiedade e depressão em familiares de pacientes admitidos na unidade de terapia intensiva.
O familiar do paciente com tempo de internação ≥ 72 horas foi convidado a participar do estudo, realizado em um hospital público. Foram respondidos questionários para avaliar a compreensão do diagnóstico, do tratamento e do prognóstico, e o suporte recebido na unidade de terapia intensiva. Também foram avaliadas as necessidades da família por meio da versão modificada do Critical Care Family Needs Inventory (CCFNI) e foi aplicada a Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS), para avaliar os sintomas de ansiedade e depressão.
Foram entrevistados 35 familiares em sua primeira semana de permanência na unidade de terapia intensiva. A maioria dos pacientes (57,1%) era do sexo masculino, com 54 ± 19 anos de idade. A sepse foi o principal motivo da internação na unidade de terapia intensiva (40%); a mediana do Simplified Acute Physiology Score (SAPS) 3 foi de 68 (48 - 77) e 51,4% faleceram na unidade de terapia intensiva. A maioria dos familiares era do sexo feminino (74,3%), filhos ou filhas dos pacientes (54,3%), com idade de 43,2 ± 14 anos. Foi observado que 77,1% dos familiares encontravam-se satisfeitos com a unidade de terapia intensiva. A incompreensão do prognóstico foi observada em 37,1% dos familiares. As informações claras e completas recebidas na unidade de terapia intensiva e o médico ser acessível tiveram correlação significativa com a satisfação geral da família. Foi grande a prevalência dos sintomas de ansiedade (60%) e depressão em (54,3%) nos familiares.
O sofrimento emocional dos familiares é grande durante a internação do paciente na unidade de terapia intensiva, embora a satisfação seja alta. As informações claras e completas dadas pelo intensivista e o suporte recebido na unidade de terapia intensiva têm correlação significativa com a satisfação dos familiares em um hospital público.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(2):156-163
DOI 10.5935/0103-507X.20190026
Avaliar a eficácia e a segurança da oxigenoterapia com uso de cânula nasal de alto fluxo no tratamento da insuficiência respiratória hipercápnica moderada em pacientes que não conseguem tolerar ou têm contraindicações para ventilação mecânica não invasiva.
Estudo prospectivo observacional de 13 meses envolvendo participantes admitidos a uma unidade de terapia intensiva com insuficiência respiratória hipercápnica ou durante o processo de seu desenvolvimento. Os parâmetros clínicos e de troca gasosa foram registrados em intervalos regulares durante as primeiras 24 horas. Os parâmetros finais foram saturação de oxigênio entre 88 e 92%, juntamente da redução do esforço respiratório (frequência respiratória) e da normalização do pH (≥ 7,35). Os participantes foram considerados não responsivos em caso de necessidade de utilização de suporte ventilatório.
Trinta participantes foram tratados utilizando oxigenoterapia com cânula nasal de alto fluxo. Esta foi uma população mista com exacerbação de doença pulmonar obstrutiva crônica, edema pulmonar cardiogênico agudo, e insuficiência respiratória aguda pós-operatória e pós-extubação. Observou-se melhora não significante na frequência respiratória (28,0 ± 0,9 versus 24,3 ± 1,5; p = 0,22), que foi aparente nas primeiras 4 horas do tratamento. Ocorreu melhora do pH, embora só se tenham obtido níveis normais após 24 horas de tratamento com cânula nasal de alto fluxo (7,28 ± 0,02 versus 7,37 ± 0,01; p = 0,02). A proporção de não responsivos foi de 13,3% (quatro participantes), dos quais um necessitou e aceitou ventilação mecânica não invasiva, e três necessitaram de intubação. A mortalidade na unidade de terapia intensiva foi de 3,3% (um participante), e um paciente morreu após a alta para a enfermaria (mortalidade hospitalar de 6,6%).
O oxigenoterapia com cânula nasal de alto fluxo é eficaz para a insuficiência respiratória hipercápnica moderada e ajuda a normalizar os parâmetros clínicos e de troca gasosa, com taxa aceitável de não responsivos que necessitaram de suporte ventilatório.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(2):164-170
DOI 10.5935/0103-507X.20190028
Avaliar a satisfação dos doentes internados em uma unidade de cuidado intensivo com o diário e analisar possíveis pontos de melhoria deste instrumento.
Estudo retrospectivo observacional, decorrido entre março de 2014 e julho de 2017, em uma unidade de cuidado intensivo polivalente de um hospital distrital. Foi iniciado o diário em doentes sedados por 3 ou mais dias. Depois de 3 meses da alta, foi avaliada a satisfação deles por meio de um questionário. O doente que concordou com as cinco afirmações que visavam avaliar esclarecimento, preenchimento de lacunas de memória, ajuda na recuperação, tranquilização e recomendação da intervenção foi definido como satisfeito.
Foram incluídos 110 doentes, dos quais 55 responderam o questionário. Destes, 36 (65,5%) foram classificados como satisfeitos. Cada item teve uma resposta positiva em mais de 74% dos casos. Sugeriram o aumento do número de fotografias 60% dos participantes. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na análise de subgrupos (idade, sexo, tempo de sedação e ventilação, tempo de diário, gravidade à admissão, delirium, depressão ou ansiedade na unidade de cuidado intensivo).
A maioria dos doentes mostrou-se satisfeita com o diário, sugerindo, no entanto, o aumento do número de fotografias.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(2):171-179
DOI 10.5935/0103-507X.20190025
Avaliar as diferenças entre os desfechos da terapia nutricional com ingestão ideal de calorias mais alto teor proteico e do padrão de cuidados nutricionais em pacientes críticos adultos.
Randomizamos pacientes com previsão de permanecer na unidade de terapia intensiva por pelo menos 3 dias. No grupo com ingestão ideal de calorias mais alto teor proteico, a necessidade de ingestão calórica foi determinada por calorimetria indireta e a ingestão proteica foi estabelecida em níveis de 2,0 a 2,2g/kg/dia. O grupo controle recebeu calorias em nível de 25kcal/kg/dia e 1,4 a 1,5g/kg/dia de proteínas. O desfecho primário foi o escore do sumário do componente físico obtido aos 3 e 6 meses após a randomização. Os desfechos secundários incluíram força de preensão manual quando da alta da unidade de terapia intensiva, duração da ventilação mecânica e mortalidade hospitalar.
A análise incluiu 120 pacientes. Não houve diferença significante entre os dois grupos em termos de calorias recebidas. Contudo, a quantidade de proteínas recebidas pelo grupo com nível ideal de calorias mais alto teor de proteínas foi significantemente mais alta do que a recebida pelo grupo controle. O escore do sumário componente físico aos 3 e 6 meses após a randomização não diferiu entre ambos os grupos, assim como não diferiram os desfechos secundários. Entretanto, após ajuste para covariáveis, um delta proteico negativo (proteínas recebidas menos a necessidade proteica predeterminada) se associou com escore do sumário do componente físico mais baixo nas avaliações realizadas 3 e 6 meses após a randomização.
Neste estudo, a estratégia com ingestão calórica ideal mais elevado teor proteico não pareceu melhorar a qualidade de vida física em comparação aos cuidados nutricionais padrão. Contudo, após ajuste para covariáveis, um delta proteico negativo se associou com escores do sumário do componente físico mais baixos nas avaliações realizadas aos 3 e aos 6 meses após a randomização. Esta associação ocorreu independentemente do método de cálculo do alvo proteico.