Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(1):96-106
DOI 10.5935/0103-507X.20220004-en
A reversão precoce da hipoperfusão tecidual induzida é essencial para a sobrevida no choque séptico. No entanto, falta consenso sobre a melhor estratégia de ressuscitação inicial, uma vez que intervenções destinadas a toda a população com choque séptico podem produzir administração desnecessária de líquidos. Este artigo relata a justificativa, o delineamento e o plano de análise do estudo ANDROMEDA-2, que visa determinar se uma estratégia guiada por perfusão periférica, que consiste na ressuscitação guiada pelo tempo de enchimento capilar com base em fenótipos clínicos e hemodinâmicos, está associada a uma diminuição no desfecho composto de mortalidade, tempo até a interrupção ao suporte de órgãos e tempo de internação em comparação com o atendimento padrão em pacientes com choque séptico precoce (< 4 horas do diagnóstico).
O estudo ANDROMEDA-2 é um ensaio clínico randomizado controlado multinacional e multicêntrico. No grupo de intervenção, o tempo de enchimento capilar será medido a cada hora, durante 6 horas. Se estiver anormal, os pacientes serão alocados em um algoritmo, começando com a avaliação da pressão de pulso. Pacientes com pressão de pulso inferior a 40mmHg serão testados quanto à capacidade de resposta a líquidos e receberão líquidos de acordo. Em pacientes com pressão de pulso > 40mmHg, norepinefrina será titulada para manter a pressão arterial diastólica > 50mmHg. Os pacientes que não normalizarem o tempo de enchimento capilar após as etapas anteriores serão submetidos à ecocardiografia de cuidados intensivos para avaliação da disfunção cardíaca e posterior manejo. Por fim, serão realizados testes com vasopressores e inodilatadores para otimizar ainda mais a perfusão. Um tamanho de amostra de 1.500 pacientes fornecerá 88% de poder para demonstrar a superioridade da estratégia direcionada ao tempo de enchimento capilar.
Se for demonstrado que o direcionamento ao tempo de enchimento capilar é uma estratégia melhor, os processos de atendimento na ressuscitação do choque séptico podem ser otimizados com ferramentas usadas à beira do leito.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2014;26(3):269-276
DOI 10.5935/0103-507X.20140038
As anomalias da perfusão periférica são manifestações importantes do choque, sendo o tempo de reenchimento capilar comumente utilizado em sua avaliação. Entretanto, a reprodutibilidade das mensurações do tempo de reenchimento capilar e sua correlação com outras variáveis da perfusão periférica não foram avaliadas de forma abrangente. Nosso objetivo foi determinar, em voluntários saudáveis, a concordância entre diferentes métodos e diferentes observadores na quantificação do tempo de reenchimento capilar, assim como sua correlação com outros marcadores da perfusão periférica.
Estudamos 63 voluntários saudáveis. Dois observadores mediram o tempo de reenchimento capilar por meio de dois métodos distintos: visão direta (TRCcronômetro) e vídeo-análise (TRCvídeo). Medimos também o índice de perfusão derivado de pletismografia de pulso e a temperatura da polpa digital (Tºperiférica). A concordância entre os observadores e os métodos foi avaliada utilizando o método de Bland-Altman. As correlações foram calculadas utilizando a correlação de Pearson. Valor de p<0,05 foi considerado significante.
Os limites de concordância de 95% entre ambos os observadores foram de 1,9 segundo para TRCcronômetro e 1,7 segundo para TRCvídeo. Os limites de concordância de 95% entre TRCcronômetro e TRCvídeo foram de 1,7 segundo para o Observador 1 e 2,3 segundos para o Observador 2. As mensurações do TRCcronômetro realizadas pelos dois observadores se correlacionaram com a Tºperiférica. As mensurações do TRCvídeo realizadas pelos dois observadores se correlacionaram com a Tºperiférica e o índice de perfusão.
As mensurações do tempo de reenchimento capilar realizadas por diferentes observadores ou diferentes métodos em voluntários saudáveis mostraram baixa concordância. Apesar disso, o tempo de reenchimento capilar ainda refletiu a perfusão periférica, conforme mostrado por sua correlação com variáveis objetivas da perfusão periférica.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2013;25(2):168-174
DOI 10.5935/0103-507X.20130029
A utilização da saturação venosa central de oxigênio (SvcO2) e do lactato arterial no diagnóstico de hipoperfusão tecidual em doentes graves já está bem estabelecida, e a otimização desses parâmetros é buscada principalmente em pacientes com sepse grave/choque séptico. Contudo, em diversas ocasiões, o único sítio para punção venosa profunda ou a primeira escolha para punção é a veia femoral. Embora a saturação venosa obtida da coleta de sangue desse cateter, em substituição a SvcO2, já tenha sido utilizada, pouco se sabe a respeito da acurácia de seus resultados. A utilização do lactato venoso, em substituição da punção arterial, também tem norteado decisões terapêuticas. Realizamos esta revisão de literatura buscando evidências sobre a correlação e a concordância desses parâmetros, obtidos pela coleta de gasometria venosa femoral, em relação à SvcO2 e ao lactato arterial. Existem poucos estudos na literatura avaliando a utilização da saturação venosa femoral de oxigênio (SvfO2) ou de lactato venoso. Os resultados até então obtidos mostram não haver concordância adequada entre SvfO2 e SvcO2, o que limita sua utilidade clínica. No entanto, a aparente correlação forte entre os valores de lactato arterial e venoso, tanto periférico como central, sugere que o lactato venoso obtido da veia femoral poderia, eventualmente, ser utilizado em substituição do lactato arterial, embora não haja evidências suficientes para basear essa conduta no momento.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2010;22(3):229-235
DOI 10.1590/S0103-507X2010000300003
OBJETIVOS: Classicamente, lactato elevado é considerado como marcador de pior prognóstico, entretanto poucos dados existem a respeito da cinética do lactato no periodo intraoperatório e sua associação com o prognóstico. O objetivo deste estudo foi avaliar em qual momento do período perioperatório o valor do lactato apresenta maior importância prognóstica. MÉTODOS: Estudo prospectivo observacional de um hospital terciário. Foram incluídos pacientes com solicitação de pós-operatório em unidade de terapia intensiva com idade >18 anos, submetidos a cirurgias de grande porte. Pacientes de cirurgias paliativas, com insuficiência cardíaca e/ou hepática grave foram excluídos. Valores de lactato arterial foram mensurados imediatamente antes do início da cirurgia (T0), após indução anestésica (T1), após 3hs de cirurgia (T2), na admissão da unidade de terapia intensiva (T3) e após 6 h da admissão na unidade de terapia intensiva (T4). RESULTADOS: Foram incluídos 67 pacientes. Os valores médios do lactato dos pacientes no T0, T1, T2, T3 e T4 foram respectivamente 1,5 ± 0,8mmol/L, 1,5 ± 0,7mmol/L, 1,8 ± 1,2mmol/L, 2,7 ± 1,7mmol/L e 3,1 ± 2,0mmol/L. A taxa de mortalidade hospitalar foi 25,8% e as dosagens de lactato dos pacientes sobreviventes e dos não sobreviventes 6 h após admissão na unidade de terapia intensiva foram 2,5 ± 1,3 e 4,8 ± 2,8 mmol/L (p<0,0001), respectivamente. As medidas nos demais períodos não demonstraram diferenças estatisticamente significativas dentre estes grupos. CONCLUSÕES: Em pacientes cirúrgicos o lactato arterial no período intraoperatório não apresentou valor prognóstico, entretanto quando avaliado no pós-operatório, ele foi melhor para determinar mortalidade hospitalar.