Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2020;32(1):49-57
DOI 10.5935/0103-507X.20200009
Caracterizar uma coorte de pacientes com insuficiência hepática crônica agudizada em unidade de terapia intensiva e analisar os fatores de risco da mortalidade global aos 28 dias presentes no dia da admissão e no dia 3.
Estudo de coorte retrospectiva de pacientes consecutivamente admitidos à unidade de terapia intensiva entre março de 2013 e dezembro de 2016.
Incluímos 71 pacientes com idade mediana de 59 (51 - 64) anos, sendo 81,7% do sexo masculino. Consumo de álcool isoladamente (53,5%) foi a etiologia mais frequente de cirrose, e infecção (53,5%) foi o evento que mais frequentemente precipitou a agudização da insuficiência hepática crônica. No momento da admissão à unidade de terapia intensiva, os escores de severidade foram: APACHE II 21 (16 - 23), CLIF-SOFA 13 (11 - 15), Child-Pugh 12 (10 - 13) e MELD 27 (20 - 32). Dentre os indivíduos, 14,1% tiveram escore 1 de insuficiência hepática crônica agudizada, 28,2% pontuaram 2, 64,5% pontuaram 3, e 11,3% se apresentaram sem insuficiência hepática crônica agudizada. Sobre o número de falências de órgãos, 4,2% tiveram um órgão; 42,3%, dois órgãos; 32,4%, três órgãos; 16,9%, quatro órgãos; e 4,2% cinco órgãos. Foi realizado transplante hepático em 15,5% dos pacientes. A taxa de mortalidade aos 28 dias foi de 56,3%, e a taxa de mortalidade na unidade de terapia intensiva foi de 49,3%. Foram fatores independentes de risco: falências do órgãos quando da admissão à unidade de terapia intensiva (p = 0,02; RC 2,1; IC95% 1,2 - 3,9), concentração de lactato em sangue arterial no dia 3 (p = 0,02; RC 6,3; IC95% 1,4 - 28,6) e RC internacional no dia 3 (p = 0,03; RC 10,2; IC95% 1,3 - 82,8).
Pacientes com insuficiência hepática crônica agudizada apresentaram elevados níveis de severidade e taxa de mortalidade. O número de falências de órgãos no momento da admissão à unidade de terapia intensiva e o nível de lactato, assim como a razão normalizada internacional no dia 3 de permanência na unidade foram fatores independentes de risco para a mortalidade ao 28º dia. Consideramos que a terapia intensiva é essencial para pacientes com insuficiência hepática crônica agudizada, e a realização de um transplante hepático em tempo adequado foi vital para os pacientes selecionados.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2017;29(4):436-443
DOI 10.5935/0103-507X.20170070
Definir frequência de doença por citomegalovírus dentre pacientes transplantados renais na unidade de terapia intensiva nos quais houve a suspeita desta complicação; identificar fatores predisponentes e possível impacto na evolução clínica.
Estudo retrospectivo observacional, no qual foram incluídos pacientes transplantados renais acima de 18 anos, internados por quaisquer motivos em uma unidade de terapia intensiva, com pelo menos uma coleta de antigenemia ou reação em cadeia da polimerase para citomegalovírus durante internação. Doença por citomegalovírus foi definida por antigenemia positiva ou reação em cadeia da polimerase acima de 500 cópias/mL, na presença de sintomas, no contexto clínico apropriado, conforme julgamento do médico assistente.
Foram incluídos 99 pacientes (idade: 53,4 ± 12,8 anos, 71,6% homens). A doença por citomegalovírus foi diagnosticada em 39 pacientes (39,4%). Sintomas respiratórios (51%), piora clínica inespecífica (20%) ou sintomas gastrintestinais (14%) foram os principais motivos para coleta de exames. O tempo de transplante foi menor naqueles com doença por citomegalovírus em relação àqueles sem este diagnóstico (6,5 meses e 31,2 meses; p = 0,001), bem como uso de pulsoterapia nos últimos 6 meses (41% e 16,9%; p = 0,008) e uso prévio de timoglobulina no último ano (35,9% e 6,8%; p < 0,001). No modelo de regressão logística, somente o tempo de transplante e o uso de timoglobulina associaram-se à maior frequência de citomegalovírus. Não houve diferença na evolução clínica entre pacientes com ou sem doença por citomegalovírus.
Em pacientes transplantados renais com suspeita de doença por citomegalovírus, a prevalência foi alta. O tempo de transplante menor que 6 meses e o uso de timoglobulina no último ano devem aumentar a suspeita do intensivista para esta complicação.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2014;26(3):305-312
DOI 10.5935/0103-507X.20140043
Nos últimos anos, o número de estudos que investigam os ácidos nucleicos circulantes como potenciais biomarcadores tem aumentado. A detecção desses biomarcadores é uma alternativa minimamente invasiva para o diagnóstico e o prognóstico de diversas condições clínicas. O valor dos níveis de DNA circulante como biomarcador preditivo foi demonstrado em pacientes com numerosas patologias agudas que apresentam riscos elevados de necessitar cuidados intensivos e de sofrer mortalidade hospitalar. Os mecanismos pelos quais os níveis de DNA circulante aumentam em pacientes com essas condições ainda são obscuros. Nesta revisão, focalizamos o potencial uso deste biomarcador para predição prognóstica em pacientes graves e pacientes com trauma. A revisão da literatura foi feita por meio de busca no MedLine utilizando o PubMed em inglês.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2012;24(4):362-368
DOI 10.1590/S0103-507X2012000400012
OBJETIVO: Avaliar se as respostas do cortisol ao teste com 250 µg de hormônio adrenocorticotrófico, por via intravenosa, estão relacionadas à gravidade da doença e, consequentemente, à mortalidade. MÉTODOS: Estudo retrospectivo realizado em unidade de terapia intensiva de um hospital universitário. Foram estudados 69 pacientes consecutivos com choque séptico no período de 1 ano, submetidos a um teste rápido com 250 µg de hormônio adrenocorticotrófico, porque apresentavam >6 horas de instabilidade hemodinâmica progressiva, exigindo repetidos desafios hídricos e terapia com vasopressor para manter a pressão sanguínea. O teste foi realizado injetando-se 250 µg de hormônio adrenocorticotrófico sintético e avaliando-se o cortisol imediatamente antes, e 30 e 60 minutos depois da injeção. RESULTADOS: O escore APACHE II médio foi 22±7. A taxa de mortalidade na unidade de terapia intensiva foi de 55% no 28º dia. A mediana do cortisol basal (19 [11 a 27] µg/dL versus 24 [18 a 34] µg/dL; p=0,047) e a mediana da razão cortisol basal/albumina (7,6 [4,6 a 12.3] versus 13,9 [8,8 a 18,5); p=0,01) foram mais baixas nos sobreviventes do que nos não sobreviventes. Respondedores e não respondedores tiveram dados clínicos basais e desfecho semelhantes. As variáveis significantemente relacionadas ao desfecho, baseadas na área sob curva ROC (AUC), foram: 0,67 [0,535 - 0,781] para APACHE II; 0,662 [0,536 - 0,773] para cortisol basal (µg/dL); 0,642 [0,515 a 0,755] para pico do cortisol (µg/dL); e -0,75 [0,621 - 0,849] para cortisol basal/albumina. CONCLUSÕES: O aumento no cortisol basal está associado à mortalidade e à gravidade da doença. As respostas do cortisol após a estimulação por hormônio adrenocorticotrófico não se relacionaram ao desfecho. A razão cortisol basal/albumina não prevê resultados desfavoráveis melhor que o cortisol total e nem auxilia na acurácia desse teste.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2011;23(2):217-221
DOI 10.1590/S0103-507X2011000200015
Recentemente, órgãos internacionais de qualidade em saúde passaram a recomendar o uso de orientação ultrassonográfica para punções venosas centrais. O objetivo deste artigo foi revisar as evidências fundamentando tais recomendações. Foi revisada a literatura no MEDLINE, PubMed e SCIELO com os seguintes termos (MeSH): acesso venoso central, ultrassom e adultos. A pesquisa realizada em 24/09/2010, com seleção de metanálises, ensaios clínicos randomizados e revisões, encontrou 291 artigos. Os 21 artigos mais importantes foram utilizados para a confecção desta revisão. A veia jugular interna é o local mais estudado para punções guiadas por ultrassonografia, com metanálises demonstrando menor risco relativo de falha e de complicações. Além disso, o maior ensaio clínico randomizado disponível também demonstrou redução na incidência de infecções de corrente sanguínea associadas aos cateteres venosos centrais. Poucos estudos existem com relação à punção da veia subclávia, porém o uso do ultrassom mostrou-se benéfico em duas metanálises (mas com um número pouco expressivo de pacientes). Quanto ao sítio venoso femoral, há apenas um ensaio clínico randomizado (20 pacientes), o qual obteve resultados positivos. Em uma avaliação britânica de custo-efetividade, houve economia de recursos com o auxílio do ultrassom na realização das punções venosas nos diferentes sítios. Fortes evidências demonstram benefício com o auxílio ultrassonográfico para punção jugular interna. Embora o método pareça atraente para os demais sítios, ainda não há estudos suficientes que sustentem alguma recomendação.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2006;18(3):268-275
DOI 10.1590/S0103-507X2006000300009
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O controle glicêmico intensivo ocupa lugar de destaque no manuseio dos pacientes críticos. O objetivo desde estudo foi avaliar a efetividade e a segurança do protocolo de insulinoterapia por via venosa de Yale nos pacientes críticos internados em unidade de terapia intensiva geral em hospital comunitário. MÉTODO: Foi realizado um estudo retrospectivo e comparativo entre 2 coortes de pacientes críticos, antes e após a implantação do controle glicêmico intensivo. Os desfechos de interesse do estudo foram glicemia média durante o tratamento, tempo para atingir a faixa alvo de 80 a 140 mg/dL, percentual de glicemia dentro desta faixa e incidência de hipoglicemia. RESULTADOS: Foram estudados 112 pacientes, divididos em dois grupos. Sessenta pacientes constituíram o grupo controle (GC) e 52 o grupo protocolo (GP). A glicemia média no GP foi de 131,2 ± 14,7 mg/dL versus 181,7 ± 36,1 mg/dL no GC. Os pacientes no GP alcançaram a faixa alvo mais rápido [mediana 7h (4 - 10h) versus mediana 96h (46 - 278h)] no GC. O percentual de glicemia dentro da faixa-alvo foi de 65% no GP e de 32% no GC. Não houve diferença estatística significativa na incidência de hipoglicemia grave; 4 pacientes no GP versus 2 pacientes no GC. CONCLUSÕES: O protocolo de insulinoterapia por via venosa contínua de Yale, mostrou-se efetivo e seguro para o manuseio do controle glicêmico em unidade de terapia intensiva que atende pacientes clínicos e cirúrgicos.