Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2014;26(2):56-64
DOI 10.1590/S0100-72032014000200003
Avaliar a adequação do processo de assistência pré-natal segundo os parâmetros do Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN), acrescido dos procedimentos previstos pela Rede Cegonha, no Sistema Único de Saúde (SUS) de uma microrregião do Espírito Santo, Brasil.
Foi realizado um estudo transversal, em 2012-2013, por meio de entrevistas e de análise do Cartão da Gestante e do prontuário do recém-nascido, com 742 puérperas em 7 maternidades da região escolhida para a pesquisa. As informações foram coletadas, processadas e submetidas aos testes do χ2 e exato de Fisher para testar a diferença de proporção entre os critérios adotados pelo PHPN mais a Rede Cegonha e o local de moradia, renda familiar mensal e modalidade de cobertura do serviço pré-natal. Foi considerado um nível de significância de 5%.
Os parâmetros que apresentaram as menores taxas de adequação foram os testes rápidos e os exames de repetição, com frequências em torno de 10 e 30%, respectivamente, além das atividades educativas (57,9%) e da imunização antitetânica (58,7%). Já os parâmetros manejo do risco (92,6%) e exame de glicemia de jejum (91,3%) apresentaram os melhores resultados. Foi encontrada adequação de 7,4% para o PHPN, de 0,4% para a Rede Cegonha, no que diz respeito aos parâmetros da gravidez de risco habitual, e de 0 para os de alto risco. Houve diferença estatisticamente significante entre as puérperas segundo local de moradia para realização de sorologia para sífilis (VDRL), teste anti-HIV e repetição de glicemia de jejum, e a renda familiar mensal influenciou a realização dos exames tipagem sanguínea/fator Rh, VDRL, hematócrito e teste anti-HIV.
A assistência pré-natal no SUS mostrou-se inadequada, de acordo com os procedimentos previstos pelo PHPN e Rede Cegonha na microrregião de um estado do Sudeste brasileiro, principalmente para as mulheres de menor renda, usuárias do PACS e residentes na zona rural.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2006;18(4):338-343
DOI 10.1590/S0103-507X2006000400004
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A ventilação mecânica não-invasiva (VMNI) tem sido utilizada rotineiramente como método para auxiliar o desmame da ventilação mecânica. Uma das aplicações mais comuns é a sua utilização em pacientes que evoluem com quadro de insuficiência respiratória aguda (IRpA) após a extubação traqueal, embora as evidências científicas para esta indicação ainda sejam controversas. Os objetivos deste estudo foram identificar o número de pacientes que evoluem para IRpA após a extubação, avaliar a eficácia da VMNI para reverter este quadro e promover aumento da taxa de sucesso no desmame da ventilação mecânica. MÉTODO: Foi realizado um estudo prospectivo e transversal. A VMNI foi aplicada nos pacientes que apresentaram IRpA após extubação, independentemente de sua etiologia. A VMNI foi realizada na modalidade pressão de suporte, que foi ajustada para se obter volume-corrente exalado (Vte) de 6 a 8 mL/kg e PEEP e FiO2 ajustados para se obter a SaO2 > 95%. A VMNI foi realizada de forma contínua até cessarem os sinais de IRpA apresentados. O sucesso do desmame e da VMNI foi definido quando os eventos que levaram o paciente à utilização da VMNI fossem revertidos por um período superior a 48 horas de ventilação espontânea, evitando assim a re-intubação. RESULTADOS: Foram incluídos no estudo 103 pacientes. Observou-se que 32% (33) evoluíram com sinais de IRpA após a extubação e foram submetidos a VMNI. O tempo de VMNI utilizado foi 8 ± 5 horas, a PSV utilizada foi de 12 ± 2 cmH2O, PEEP de 7 ± 2 cmH2O, FiO2 de 40% ± 20%, Vte de 462 ± 100 mL, FR de 26 ± 5 rpm. Entre os pacientes submetidos a VMNI (33), 76% (25) cursaram com sucesso e posterior alta do serviço de terapia intensiva e 24% (8) evoluíram com insucesso da VMNI e necessidade de re-intubação. CONCLUSÕES: A VMNI aplicada em pacientes com IRpA após a extubação foi um recurso seguro e eficaz para evitar a re-intubação.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2006;18(4):385-389
DOI 10.1590/S0103-507X2006000400011
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O aumento progressivo nos recursos diagnósticos tem aumentado a qualidade e a quantidade dos exames de laboratório realizados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI). A influência deste aumento sobre a morbidade e mortalidade não está bem definida. O objetivo deste estudo foi avaliar a freqüência da solicitação de exames na UTI do HU e verificar se houve ou não relação entre a quantidade de exames solicitados e a idade dos pacientes, o seu desfecho e a gravidade das doenças. MÉTODO: Coorte prospectiva, com abordagem quantitativa. Foram analisados os exames dos pacientes internados na UTI, dos meses de julho a dezembro, 2005. Foram coletados dados clínicos e demográficos dos pacientes e quantificados diariamente os exames mais freqüentemente solicitados na UTI. Seqüencialmente a média diária de exames foi calculada para todo o período de internação. Para fins de análise os pacientes foram divididos obedecendo três critérios: faixa etária, desfecho de saída da UTI e gravidade. Para a análise estatística foram utilizados os testes Exato de Fisher, Qui-quadrado e ANOVA. RESULTADOS: Foram admitidos 113 pacientes durante o período de estudo. A taxa média foi de 11,5 exames por dia de internação. Estes valores não apresentaram diferença estatística quando comparados entre os pacientes com idade acima ou abaixo de 60 anos, entre os que sobreviveram e os que foram a óbito e entre aqueles que tiveram taxa de óbito estimada em menos que 50% ou mais que 50%. CONCLUSÕES: Os exames solicitados não guardam correlação clínica e prognóstica com sua solicitação. Não houve estatística significativa quando a taxa diária média de exames foi relacionada à idade do paciente, ao desfecho e à gravidade.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2006;18(4):374-379
DOI 10.1590/S0103-507X2006000400009
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: As novas diretrizes contêm importantes modificações para melhorar à prática de reanimação e a sobrevida de pacientes com parada cardíaca (PC). O objetivo desse estudo foi avaliar o conhecimento teórico a cerca da PC e reanimação cardiopulmonar (RCP) entre os médicos com mais de cinco anos graduação. MÉTODO: Trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem quantitativa em Hospital de Emergência no Estado de Alagoas. A população foi composta por médicos com mais de cinco anos de graduação. Para a coleta de dados utilizou-se questionário com perguntas sobre o tema. Os resultados foram analisados de conformidade com a literatura sobre parada cardíaca e reanimação cardiopulmonar. RESULTADOS: Responderam ao questionário 39 profissionais. O diagnóstico da PC foi corretamente respondido por 76,9%; e, em um caso clínico houve aumento para 87,2%. As indicações do bicarbonato de sódio foram corretamente respondidas por 30,8% e a indicação adequada do uso de vasopressina era conhecida por 15,4% dos participantes. CONCLUSÕES: Esse estudo revelou alguma deficiência no conhecimento dos médicos quando questionados sobre a terapêutica usada na PCR. Mostrou pouco conhecimento acerca da vasopressina como alternativa à adrenalina e o uso freqüente do bicarbonato de sódio é utilizado de maneira inadequada. O estudo apresentou dados que justificam o treinamento contínuo para médicos com mais de cinco anos de formado.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2006;18(4):360-365
DOI 10.1590/S0103-507X2006000400007
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Um dos maiores desafios dos médicos intensivistas é o controle da hipoperfusão tecidual, sendo o lactato sérico classicamente aceito como indicador de hipóxia tecidual. Deste modo, estudos demonstraram boa correlação entre o lactato e o prognóstico no choque e durante a reanimação. O objetivo deste estudo foi avaliar a utilidade clínica do lactato arterial à admissão na UTI como indicador de morbimortalidade em pacientes críticos no pós-operatório de intervenções cirúrgicas não cardíacas de alto risco. MÉTODO: Estudo de coorte prospectivo observacional, realizado em UTI de hospital terciário no período de 4 meses. Foram coletados dados demográficos, lactato arterial e complicações no pós-operatório de pacientes submetidos à intervenções cirúrgicas de grande porte. Para análise estatística foi considerado significativo p < 0,05. A habilidade preditiva dos índices em diferenciar sobreviventes e não sobreviventes foi verificada utilizando curvas ROC. Estimativas de permanência na UTI foram calculadas utilizando o método de Kaplan Méier. RESULTADOS: Foram incluídos 202 pacientes, sendo 50,2% do sexo feminino, com média da idade de 66,5 ± 13,6 anos, APACHE II 17,4 ± 3,0, mediana do MODS 4 (2-6). A duração mediana das intervenções foram 4h (3 a 6h), 70,7% de cirurgias eletivas, a mortalidade na UTI e hospitalar foram 15,6% e 33,7%, respectivamente. O melhor valor de lactato que discriminou mortalidade foi 3,2 mmol/L, sensibilidade de 62,5% e especificidade de 78,8%, área sob a curva de 0,7. Não sobreviveram 62,5% dos pacientes com lactato > 3,2 versus 21,2% de sobreviventes (OR = 2,95 IC95% 1,98 - 4,38, p < 0,0001). O tempo de permanência na UTI foi mais elevado quando lactato > 3,2 mmol/L (log rank 0,007). CONCLUSÕES: Os pacientes cirúrgicos não cardíacos de alto risco admitidos na UTI com hiperlactatemia, definida com lactato >3,2 mmol/L, apresentaram risco aumentado de morte e permanência prolongada na UTI.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2006;18(4):331-337
DOI 10.1590/S0103-507X2006000400003
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Os pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), freqüentemente apresentam depleção nutricional, tornando fundamental a monitoração diária da oferta nutricional. O objetivo desse estudo foi avaliar a adequação da Terapia Nutricional Enteral (TNE) na UTI adulto e identificar as causas de interrupção da administração enteral prescrita. MÉTODO: Foi realizado um estudo observacional prospectivo de pacientes admitidos na UTI recebendo TNE exclusiva, durante 53 dias e infusão da dieta por meio de sistema fechado, infusão contínua (22 horas/dia) e sonda na posição pós-pilórica. A velocidade de administração da dieta iniciada com 25 mL/h e progressão até atingir a meta nutricional conforme protocolo pré-estabelecido. RESULTADOS: Foram acompanhados 33 pacientes com idade entre 18 e 85 anos, 58% do sexo masculino. Os principais diagnósticos de internação foram causas cardiovasculares (27%) e choque séptico (21%). O início da TNE ocorreu em 25,3 ± 20 h após a admissão e atingiu a velocidade de meta nutricional em 32 ± 20,1 h. O volume diário prescrito, estabelecido a partir das necessidades previa atingir 26,1 ± 3,7 kcal/kg e 1,04 g de proteína/kg de peso corporal ± 0,1 g/kg. O volume administrado atingiu 19,5 ± 5,6 kcal/kg e 0,8 g de proteína/kg ± 0,2 g/kg, correspondendo a adequação de 74%. Entre as causas da interrupção na administração da fórmula enteral, a maioria (40,6%) foram para procedimentos de rotina relacionado ao paciente. CONCLUSÕES: Os valores calóricos e protéicos atingidos com TNE neste serviço estão adequados conforme dados da literatura. Estes pacientes apresentaram grave instabilidade clínica interferindo negativamente na tolerância à nutrição enteral. Pode-se constatar que a contínua sistematização de rotinas e treinamento da equipe contribuiu positivamente em atingir os objetivos da terapia nutricional.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2006;18(4):344-350
DOI 10.1590/S0103-507X2006000400005
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Tem-se creditado à pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM) impacto variável, em termos de mortalidade, aumento da permanência hospitalar e tempo de ventilação mecânica. O objetivo deste estudo foi definir três aspectos: mortalidade e incidência de PAVM antes e após a implantação de protocolo para profilaxia de pneumonia (primários); mapeamento microbiológico (secundário) como instrumento de otimização terapêutica. MÉTODO: Foi realizada uma coorte histórica de agosto de 2001 a janeiro de 2004, dividida em segmentos pré (até janeiro de 2003, n = 52) e pós-implantação do protocolo, com análise de mortalidade e mapeamento microbiológico executados no segundo segmento (subgrupo controle n = 39 e subgrupo caso n = 14). RESULTADOS: As taxas de incidência nos anos de 2001 a 2003 foram, respectivamente 28,05‰ ± 12,92‰, 22,45‰ ± 10,18‰ e 10,75‰ ± 7,61‰. A redução de incidência após a intervenção não alcançou significância estatística (p > 0,4). As taxas de mortalidade foram 49% no grupo controle (IC 95 =33% a 65%) e 43% no grupo caso (IC 95 = 14% a 72%), com RR = 0,88 (IC 95 = 0,26 a 2,94), sem significância estatística (p = 0,65). Oito lavados bronco-alveolares foram obtidos (57%), 50% com flora mista. Pseudomonas aeruginosa foi isolada em seis pacientes (75%), Acinetobacter sp em um caso (12,5%) e Staphylococcus aureus meticilina-resistente (MRSA) em um caso (12,5%). Outros Gram-negativos produtores de betalactamase de espectro estendido (ESBL) em dois casos (25%) e Stenotrophomonas maltophilia em um caso (12,5%). CONCLUSÕES: A incidência de PAVM mostrou tendência à redução considerável após a implantação do protocolo de profilaxia, porém os resultados sugerem não haver impacto na mortalidade, sendo necessário estudo prospectivo de maior amostra para conclusões definitivas. Os germes isolados foram, em sua maioria, de alto risco para resistência a antimicrobianos. Assim, é necessário conhecer o perfil de sensibilidade da unidade para traçar estratégia terapêutica inicial adequada.