Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2017;29(2):180-187
DOI 10.5935/0103-507X.20170028
Analisar pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca que necessitaram de reintubação endotraqueal, e identificar os fatores associados com óbito e seu relacionamento com escores de severidade.
Análise retrospectiva de informações referentes a 1.640 pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca no período entre 2007 e 2015.
A taxa de reintubação foi de 7,26%. Dentre os pacientes reintubados, 36 (30,3%) foram submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica, 27 (22,7%) à substituição valvar, 25 (21,0%) à correção de um aneurisma e oito (6,7%) a um transplante cardíaco. Dentre os pacientes com comorbidades, 54 (51,9%) eram hipertensos, 22 (21,2%) diabéticos e 10 (9,6%) tinham doença pulmonar. Dentre os pacientes que tiveram complicações, 61 (52,6%) tiveram pneumonia, 50 (42,4%) desenvolveram insuficiência renal e 49 (51,0%) tiveram uma forma moderada de distúrbio transitório da troca gasosa. Foi realizada ventilação não invasiva em 53 (44,5%) pacientes. A taxa de óbitos foi de 40,3%, e a mortalidade foi mais elevada no grupo que não recebeu ventilação não invasiva antes da reintubação (53,5%). Dentre os pacientes reintubados que morreram, os valores do SOFA e do APACHE II foram, respectivamente, de 7,9 ± 3,0 e 16,9 ± 4,5. A maior parte dos pacientes reintubados (47,5%) pertencia ao grupo de risco mais elevado (EuroSCORE > 6 pontos).
A taxa de reintubação foi elevada e se relacionou com o SOFA e o APACHE II mais graves. A mortalidade foi mais elevada no grupo que não recebeu ventilação não invasiva antes da reintubação.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2017;29(2):188-194
DOI 10.5935/0103-507X.20170018
Identificar os níveis de satisfação dos familiares de pacientes internados em unidades de terapia intensiva.
Este foi um estudo analítico transversal. As unidades gerais de terapia intensiva oferecem uma variedade de serviços a pacientes clínicos e cirúrgicos. Para as finalidades deste estudo, um entrevistador treinado fez contato com familiares dos pacientes, antes ou após o horário de visita.
O estudo incluiu 208 participantes, sendo 119 (57,2%) do sexo masculino. Dentre os pacientes, 73 (35,1%) se encontravam em um hospital particular e 135 (64,9%) em um hospital público na cidade de Al Madinah Al-Munawarah. Todos os participantes eram membros da família ou amigos de pacientes admitidos às unidades de terapia intensiva dos hospitais. As respostas de ambos os grupos proporcionaram escores baixos nos índices de satisfação. Observou-se, porém, um escore relativamente elevado nas respostas às questões 2, 6 e 10, concernentes, respectivamente, aos cuidados proporcionados pela equipe do hospital a seus pacientes, à atitude de cortesia dos membros da equipe das unidades de terapia intensiva para com os pacientes, e à satisfação dos pacientes com os cuidados médicos proporcionados. O escore foi muito baixo para o item 11, relacionado à possibilidade de melhorias nos cuidados médicos que os pacientes recebiam. Em geral foi relatada uma satisfação maior com os serviços oferecidos pelas unidades de terapia intensiva dos hospitais públicos, em comparação com a satisfação com os cuidados oferecidos pelas unidades de terapia intensiva dos hospitais privados.
Em geral, foi obtido um escore baixo nos índices de satisfação, recomendando-se a realização de outros estudos para avaliar a situação atual, e melhorar a satisfação e a qualidade dos serviços fornecidos pelas unidades de terapia intensiva.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2017;29(2):195-205
DOI 10.5935/0103-507X.20170019
Descrever o prognóstico, os fatores de risco e a etiologia das infecções da pele e dos tecidos moles na unidade de terapia intensiva.
Estudo retrospectivo de uma coorte de 1.123 pacientes graves admitidos a uma unidade de terapia intensiva com o diagnóstico de infecção grave de pele ou tecidos moles.
Foram selecionados 30 pacientes, sendo 20 (66,7%) com fasceíte necrotizante, predominantemente da região perineal; 8 (26,7%) com abscesso cutâneo; e 2 (6,6%) com celulite. A maioria dos pacientes tinha fatores de risco, como imunossupressão e lesões cutâneas. O microrganismo isolado predominante foi Escherichia coli. Pacientes com fasceíte necrotizante na admissão à unidade de terapia intensiva apresentaram mortalidade significativamente maior (55%; p = 0,035), assim como aqueles com maior índice de severidade, choque séptico, parada cardiorrespiratória e leucocitose. Organismos resistentes à antibioticoterapia foram comuns, mesmo na ausência de fatores de risco. Quando presente, o fator de risco mais comum foi o uso prévio de antibiótico.
Foram identificados fatores de risco e microrganismos diferentes dos classicamente descritos na literatura, além de elevada mortalidade da fasceíte necrotizante e presença de microrganismos multirresistentes na ausência de fatores de risco. Dada a aparente evolução etiológica das infecções da pele e tecidos moles, a identificação de novos fatores de risco e etiologia pode contribuir para uma terapêutica antimicrobiana mais adequada.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2017;29(2):206-212
DOI 10.5935/0103-507X.20170029
Avaliar a frequência de falência de múltiplos órgãos primária e o papel da sepse como agente causal em pacientes pediátricos críticos; e calcular e avaliar a precisão dos escores Pediatric Risk of Mortality III (PRISM III) e Pediatric Logistic Organ Dysfunction (PELOD) para predizer os desfechos de crianças em estado crítico.
Estudo retrospectivo, que avaliou dados de pacientes admitidos entre janeiro a dezembro de 2011 na unidade de terapia intensiva pediátrica do Children's Hospital da Cairo University.
Dentre os 237 pacientes estudo, 72% tiveram falência de múltiplos órgãos e 45% sepse com falência de múltiplos órgãos. A taxa de mortalidade em pacientes com falência de múltiplos órgãos foi de 73%. Os fatores independentes de risco para óbito foram ventilação mecânica e falência neurológica (OR: 36 e 3,3, respectivamente). O PRISM III foi mais preciso para prever óbito, com qui quadrado no teste de Hosmer-Lemeshow de 7,3 (df = 8; p = 0,5). A área sob a curva foi de 0,723 para o PRISM III e de 0,78 para o PELOD.
A falência de múltiplos órgãos esteve associada à elevada mortalidade. A sepse foi sua principal causa. Pneumonia, diarreia e infecções do sistema nervoso central foram as principais causas de sepse. O PRISM III teve melhor calibração do que o PELOD para prognóstico dos pacientes, apesar da elevada frequência da síndrome de falência de múltiplos órgãos.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2017;29(2):213-221
DOI 10.5935/0103-507X.20170030
Avaliar a viabilidade do uso de índices derivados do sinal de eletromiografia de superfície para predizer desfechos do processo de desmame em pacientes mecanicamente ventilados após cirurgia cardíaca.
Foram incluídos dez pacientes em pós-operatório de cirurgia cardiovascular que não cumpriram os critérios para extubação precoce. Os sinais da eletromiografia de superfície foram registrados, assim como as variáveis ventilatórias durante o processo de desmame, sendo o momento do procedimento determinado pela equipe médica, segundo sua experiência. Avaliaram-se diversos índices da atividade dos músculos respiratórios obtidos a partir da eletromiografia de superfície com uso de técnicas de processamento lineares e não lineares. Compararam-se dois grupos: pacientes com e sem sucesso no desmame.
Os índices obtidos permitiram estimar a atividade diafragmática de cada paciente, demonstrando uma correlação entre atividade elevada e falha do teste de desmame.
A eletromiografia de superfície está se tornando um procedimento promissor para avaliar as condições de pacientes ventilados mecanicamente, mesmo em condições complexas, como as que envolvem aqueles após cirurgia cardiovascular.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2017;29(2):222-230
DOI 10.5935/0103-507X.20170031
Alguns dos pacientes admitidos em uma unidade de terapia intensiva podem enfrentar condições de doença terminal, que geralmente levam à morte. O conhecimento sobre cuidados paliativos é recomendado para os profissionais de saúde encarregados do cuidado destes pacientes. Em muitas situações, os pacientes devem ser avaliados diariamente, já que a introdução de novos tratamentos pode ou não ser benéfica para eles. As discussões entre os membros da equipe de saúde, relacionadas ao prognóstico e aos objetivos do tratamento, devem ser avaliadas cuidadosamente em cooperação com os pacientes e seus familiares. A adoção na unidade de terapia intensiva de protocolos relacionados a pacientes em final da vida é fundamental. É importante ter uma equipe multidisciplinar para determinar se é necessário deixar de iniciar ou mesmo retirar tratamentos avançados. Além disto, pacientes e familiares devem ser informados de que os cuidados paliativos envolvem o melhor tratamento possível para aquela situação específica, assim como respeitar suas vontades e considerar as bases sociais e espirituais dos mesmos. Assim, o objetivo desta revisão foi apresentar os cuidados paliativos como uma opção razoável para dar suporte à equipe da unidade de terapia intensiva na assistência a pacientes com doença terminal. São apresentadas atualizações com relação a dieta, ventilação mecânica e diálise nestes pacientes. Ainda, discutiremos o programa, comum nos Estados Unidos, conhecido como filosofia hospice, como alternativa ao ambiente da unidade de terapia intensiva/hospital.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2017;29(2):231-237
DOI 10.5935/0103-507X.20170032
A distensão excessiva e o recrutamento alveolar pelo volume corrente foram defendidos como os principais mecanismos físicos responsáveis pela lesão pulmonar induzida pelo ventilador. A limitação do volume corrente demonstrou benefícios quanto à sobrevivência em pacientes com síndrome da angústia respiratória aguda e é reconhecida como a pedra fundamental da ventilação protetora. Em contraste, o uso de elevados níveis de pressão positiva expiratória final em estudos clínicos gerou resultados conflitantes e ainda é um assunto controvertido. Nesta revisão, discutimos os benefícios e as limitações da abordagem de pulmão aberto, e debatemos alguns recentes estudos experimentais e clínicos, referentes ao uso de níveis baixos e moderados de pressão positiva expiratória final. Também distinguimos o estiramento dinâmico (volume corrente) do estático (pressão expiratória final positiva e pressão média nas vias aéreas) e discutimos seus papéis na indução da lesão pulmonar induzida pela ventilação. As estratégias com elevada pressão positiva expiratória final claramente diminuem a hipoxemia refratária em pacientes com síndrome da angústia respiratória aguda, porém também aumentam o estiramento estático, que, por sua vez, pode ser lesiva aos pacientes, especialmente para aqueles com nível mais baixo de recrutabilidade pulmonar. Em pacientes com insuficiência respiratória grave, recomenda-se a titulação da pressão positiva expiratória final contra a gravidade da hipoxemia, ou sua aplicação de uma forma decrescente após manobra de recrutamento. Caso sejam observadas elevadas pressões de platô, driving pressure ou pressão média nas vias aéreas, a posição prona ou ventilação ultraprotetora podem ser indicadas para melhora da oxigenação, sem estresse adicional e estiramento dos pulmões.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2017;29(2):238-247
DOI 10.5935/0103-507X.20170033
Parâmetros relacionados à macrocirculação, como pressão arterial média, pressão venosa central, débito cardíaco e saturação venosa mista e central de oxigênio, são comumente utilizados na avaliação hemodinâmica de pacientes graves. No entanto, diversos estudos demonstram que existe dissociação entre estes parâmetros e o estado da microcirculação neste grupo de pacientes. Técnicas que permitem a visualização direta da microcirculação não estão completamente difundidas e nem incorporadas ao manejo clínico dos pacientes em choque. Entre as inúmeras técnicas desenvolvidas para avaliação da microcirculação encontram-se: avaliação clínica (por exemplo: índice de perfusão periférica e gradiente de temperatura); fluxometria por laser Doppler; eletrodos de avaliação de oxigênio tecidual; videomicroscopia (imagem espectral por polarização ortogonal, análise em campo escuro de fluxo lateral, ou iluminação incidental em campo escuro); e espectroscopia no infravermelho próximo. A monitorização e a otimização da perfusão tecidual por meio da visualização direta e da avaliação da microcirculação pode, em um futuro próximo, tornar-se uma meta a ser atingida na ressuscitação hemodinâmica dos pacientes graves.