Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(4):572-582
DOI 10.5935/0103-507X.20210084
Avaliar a influência dos esforços musculares respiratórios e do ajuste da frequência respiratória no ventilador sobre o volume corrente e as pressões de distensão alveolar ao final da inspiração e expiração com ventilação sob os modos controle por volume e controle por pressão na síndrome do desconforto respiratório agudo.
Utilizou-se um simulador mecânico de pulmão (ASL 5000™) conectado a cinco tipos de ventiladores utilizados em unidade de terapia intensiva, em um modelo de síndrome do desconforto respiratório agudo. Os esforços musculares respiratórios (pressão muscular) foram configurados de três formas distintas: sem esforço (pressão muscular: 0cmH2O), apenas esforços inspiratórios (pressão muscular: - 5cmH2O, tempo inspiratório neural de 0,6 segundos) e esforços musculares inspiratórios e expiratórios (pressão muscular:-5/+5cmH2O). Foram configuradas ventilação sob os modos controle por volume e ventilação com controle por pressão para oferecer um volume corrente de 420mL e pressão positiva expiratória final de 10cmH2O. Avaliaram-se o volume corrente fornecido aos pulmões, as pressões alveolares no final da inspiração e as pressões alveolares no final da expiração.
Quando disparado pelo paciente simulado, o volume corrente mediano foi 27mL menor do que o volume corrente ajustado (variação-63 a +79mL), e ocorreu uma variação nas pressões alveolares com mediana de 25,4cmH2O (faixa de 20,5 a 30cmH2O). Nos cenários simulados com esforço muscular tanto inspiratório quanto expiratório e com frequência respiratória mandatória inferior à dos esforços do paciente simulado, o volume corrente mediano foi maior com ventilação controlada.
O ajuste do esforço muscular respiratório e da frequência respiratória no ventilador em um valor acima da frequência respiratória do paciente nos modos de ventilação assistida/controlada gerou maiores variações no volume corrente e nas pressões pulmonares, enquanto o modo controlado não mostrou variações nesses desfechos.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(4):583-591
DOI 10.5935/0103-507X.20210085
Determinar a incidência cumulativa de falência aguda de órgão e internamento em unidade de terapia intensiva em pacientes oncológicos.
Estudo de coorte prospectivo de pacientes oncológicos adultos em tratamento sistêmico antineoplásico, internados de forma não programada.
Entre agosto de 2018 e fevereiro de 2019, 10.392 pacientes foram submetidos a tratamento sistêmico antineoplásico, sendo que 358 necessitaram de internamento hospitalar não programado e foram elegíveis para inclusão; por fim, 258 desses pacientes foram incluídos. A média de idade foi de 60,9 anos, e 50,9% eram do sexo masculino; 17,9% dos pacientes tinham câncer hematológico. O risco acumulado de falência de órgãos foi de 39,6% (IC95% 35 - 44) e o risco de internamento na unidade de terapia intensiva em pacientes com falência aguda de órgão foi de 15,0% (IC95% 12 - 18). À admissão em internamento, 62,1% dos pacientes foram considerados não elegíveis para terapia de substituição artificial de órgãos. O tempo mediano de seguimento foi de 9,5 meses. A mortalidade hospitalar foi de 17,5%, na unidade de terapia intensiva de 58,8%. A mediana de sobrevivência da coorte foi de 134 dias (IC95% 106 - 162). Na análise multivariada, a falência aguda de órgão se associou com a mortalidade aos 6 meses após a alta (hazard ratio: 1,6; IC95% 1,2 - 2,2).
O risco de falência aguda de órgão em pacientes oncológicos admitidos para tratamento hospitalar não programado durante o tratamento sistémico foi de 39,6% e o risco de internamento em unidade de terapia intensiva foi de 15,0%. A falência aguda de órgão em pacientes oncológicos foi um fator de prognóstico independente para maior mortalidade intra-hospitalar e menor sobrevivência aos 6 meses após a alta.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(4):592-599
DOI 10.5935/0103-507X.20210086
Traduzir e adaptar culturalmente o questionário Pediatric Intensive Care Unit-Quality of Dying and Death para o português do Brasil.
Realizou-se um processo de adaptação transcultural que incluiu equivalências conceitual, cultural e semântica. Esse processo foi composto de três etapas: Etapa 1 - autorização para realização da tradução e adaptação cultural; Etapa 2 - traduções independentes do inglês para o português do Brasil, síntese das traduções, retrotraduções e painel de especialistas; e Etapa 3 - pré-teste realizado com familiares cuidadores e equipe multiprofissional.
A avaliação pelo painel de especialistas resultou em concordância média de 0,8 em relação à equivalência semântica, cultural e conceitual. Os pré-testes de ambas as versões do questionário mostraram compreensão adequada dos participantes dos itens e opções de respostas.
Após o processo de tradução e adaptação cultural da ferramenta Pediatric Intensive Care Unit-Quality of Dying and Death, as versões para cuidador e equipe multiprofissional foram consideradas culturalmente adaptadas, com boa compreensão dos itens por ambos os grupos. Os questionários incluem itens relevantes para avaliar o processo de morte e do morrer no ambiente de terapia intensiva e podem proporcionar mudanças no cuidado centrado no paciente e, principalmente, no familiar cuidador, perante a finitude de seus filhos.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(4):600-615
DOI 10.5935/0103-507X.20210087
O manejo cardíaco, ventilatório e renal no ambiente de terapia intensiva tem melhorado nas últimas décadas. Cognição e sedação representam dois dos últimos desafios a vencer. Como a sedação convencional não é ideal, e a sedação evocada por agonistas adrenérgicos alfa-2 (sedação “cooperativa” com dexmedetomidina, clonidina ou guanfacina) representa uma alternativa valiosa, este artigo abrange três tópicos práticos para os quais há lacunas na medicina baseada em evidência. O primeiro deles é a mudança de sedação convencional para sedação cooperativa (“mudança”): a resposta curta consiste em retirada abrupta de sedação convencional, implantação imediata de infusão de um agonista alfa-2 e uso de “sedação de resgate” (bolos de midazolam) ou “sedação agressiva” (haloperidol em bolos) para estabilizar a sedação cooperativa. O segundo tópico é a mudança de sedação convencional para sedação cooperativa em pacientes instáveis (por exemplo: delirium tremens refratário, choque séptico, síndrome do desconforto respiratório agudo etc.), pois, para evitar a hipotensão e a bradicardia provocadas por desativadores simpáticos, a resposta curta é manter o volume sistólico por administração de volume, vasopressores e inotrópicos. Por fim, para evitar essas mudanças e dificuldades associadas, os agonistas alfa-2 podem ser sedativos de primeira linha. A resposta curta é administrar agonistas alfa-2 lentamente desde a admissão ou intubação endotraqueal, até estabilização da sedação cooperativa. Dessa forma, conclui-se que os agonistas alfa-2 são, ao mesmo tempo, agentes desativadores simpáticos e sedativos, bem como a desativação simpática implica na manutenção do volume sistólico e na avaliação persistente da volemia. A medicina baseada em evidência deve documentar esta proposta.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(4):616-623
DOI 10.5935/0103-507X.20210071
A hiperinsuflação manual é utilizada em unidades de terapia intensiva neonatal e pediátrica para promover um flow bias expiratório, porém não há consenso sobre os benefícios da técnica. Assim faz-se necessária uma revisão que apresente suas evidências. Este estudo objetiva revisar a literatura sobre a manobra de hiperinsuflação manual em unidades de terapia intensiva neonatal e pediátrica, para analisar as evidências dessa técnica em relação às formas de aplicação (associadas ou não a outras técnicas), sua segurança, o desempenho dos ressuscitadores manuais e a influência da experiência do fisioterapeuta, além de avaliar a qualidade metodológica dos artigos encontrados. Realizou-se uma busca nas bases de dados: Web of Science, ScienceDirect, PubMedⓇ, Scopus, CINAHL e SciELO. Dois pesquisadores selecionaram os artigos de forma independente. Verificaram-se os estudos duplicados, avaliados por títulos, resumos e, então, leitura na íntegra. Analisou-se a qualidade dos artigos pela escala PEDro. Foram incluídos seis artigos, sendo dois com alta qualidade metodológica. Os principais resultados trouxeram informações sobre a contribuição da válvula de pressão positiva expiratória final no aumento dos volumes pulmonares e a utilização das compressões torácicas para otimizar o flow bias expiratório, a influência negativa da experiência do operador no aumento do pico de fluxo inspiratório, o desempenho de diferentes ressuscitadores manuais durante a realização da técnica e a segurança na aplicação, com manutenção da estabilidade hemodinâmica e aumento da saturação periférica de oxigênio. Os estudos disponíveis apontam para um efeito positivo da manobra de hiperinsuflação manual realizada em crianças internadas em unidades de terapia intensiva.
Registro PROSPERO: CRD42018108056.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(4):624-634
DOI 10.5935/0103-507X.20210088
Identificar o perfil clínico e epidemiológico das unidades de terapia intensiva adulto no Brasil.
Foi realizada revisão sistemática, por meio de estratégia abrangente nas bases de dados PubMed®, Embase, SciELO e Biblioteca Virtual em Saúde. Os critérios de elegibilidade para esta revisão foram estudos observacionais que descreveram o perfil epidemiológico e/ou clínico de pacientes críticos, internados em unidades de terapia intensiva brasileiras e publicados no período entre 2007 e 2020.
Do total de 4.457 estudos identificados, 27 foram elegíveis para esta revisão, constituindo análise de 113 unidades de terapia intensiva e amostra final composta de 75.280 indivíduos. Observou-se predominância de pacientes do sexo masculino e idosos. As doenças cardiovasculares foram a principal causa de internação na unidade de terapia intensiva e o Acute Physiology and Chronic Health Evaluation II foi o sistema de avaliação de gravidade da doença mais utilizado. O tempo de permanência e a mortalidade na unidade de terapia intensiva mostram grande variação entre as instituições.
Estes resultados são relevantes para direcionar o planejamento e a organização nas unidades de terapia intensiva, promovendo subsídio para a tomada de decisões e implementações de intervenções que garantam melhor qualidade da assistência ao paciente.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(4):635-639
DOI 10.5935/0103-507X.20210089
Define-se estado epiléptico super-refratário como ocorrência de crises epilépticas persistentes ou que ressurgem em condições de infusão endovenosa de anestésicos por mais de 24 horas. Nos últimos anos, chamou-se a atenção para os potenciais benefícios de uma dieta cetogênica para o controle de tais pacientes. Contudo, o papel específico dessa estratégia na população adulta, assim como o mecanismo de ação, a melhor ocasião para iniciar e o manejo das complicações, permanece como assunto amplamente debatível. Relatamos uma série de casos com três pacientes que foram internados em unidade de terapia intensiva em razão de estado epiléptico super-refratário e tratados com utilização de dieta cetogênica; também propomos uma abordagem clínica para início, transição e manejo das intercorrências clínicas desta intervenção.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(4):640-643
DOI 10.5935/0103-507X.20210090