Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2015;27(4):322-332
DOI 10.5935/0103-507X.20150056
A determinação do prognóstico de pacientes em coma após parada cardíaca tem implicações clínicas, éticas e sociais. Exame neurológico, marcadores de imagem e bioquímicos são ferramentas úteis e bem aceitas na previsão da recuperação. Com o advento da hipotermia terapêutica, tais informações devem de ser confirmadas. Neste estudo procurou-se determinar a validade de diferentes marcadores que podem ser utilizados na detecção de pacientes com mau prognóstico durante um protocolo de hipotermia.
Foram coletados prospectivamente os dados de pacientes adultos, internados após parada cardíaca em nossa unidade de terapia intensiva para realização de protocolo de hipotermia. Nosso intuito foi realizar um estudo descritivo e analítico para analisar a relação entre os dados clínicos, parâmetros neurofisiológicos, de imagem e bioquímicos, e o desfecho após 6 meses, conforme definido pela escala Cerebral Performance Categories (bom, se 1-2, e mau, se 3-5). Foi coletada uma amostra para determinação de neuroenolase após 72 horas. Os exames de imagem e neurofisiológicos foram realizados 24 horas após o período de reaquecimento.
Foram incluídos 67 pacientes, dos quais 12 tiveram evolução neurológica favorável. Fibrilação ventricular e atividade teta no eletroencefalograma se associaram a bom prognóstico. Pacientes submetidos a resfriamento mais rápido (tempo médio de 163 versus 312 minutos), com lesão cerebral causada por hipóxia/isquemia detectada na ressonância nuclear magnética ou níveis de neuroenolase superiores a 58ng/mL se associaram a desfecho neurológico desfavorável (p < 0,05).
A presença de lesão cerebral causada por hipóxia/isquemia e de neuroenolase foram fortes preditores de má evolução neurológica. Apesar da crença de que atingir rapidamente a temperatura alvo da hipotermia melhora o prognóstico neurológico, nosso estudo demonstrou que este fator se associou a um aumento da mortalidade e a uma pior evolução neurológica.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2012;24(4):334-340
DOI 10.1590/S0103-507X2012000400007
OBJETIVO: Avaliar o efeito da aplicação de um protocolo gerenciado de manutenção de potenciais doadores falecidos de múltiplos órgãos em duas unidades hospitalares. MÉTODOS: Estudo antes (Fase 1)/depois (Fase 2) realizado em dois hospitais gerais que incluiu, consecutivamente, os potenciais doadores ingressados em duas unidades de terapia intensiva. Na Fase 1 (16 meses), os dados foram coletados retrospectivamente e as medidas de manutenção do potencial doador foram instituídas a critério do intensivista. Na Fase 2 (12 meses), a coleta de dados foi prospectiva e a manutenção foi guiada por um protocolo gerenciado. As duas fases foram comparadas entre si de acordo com variáveis demográficas, variáveis fisiológicas no diagnóstico da morte encefálica e ao final do processo, tempo necessário para realização do exame confirmatório de morte encefálica e final do processo, aderência aos conjuntos de medidas essenciais de manutenção (pacotes), perdas por parada cardíaca, perdas por negativa familiar, perdas por contraindicação e taxa de conversão de potenciais doadores em doadores reais. Foram aplicados os testes de t-Student e do qui-quadrado, e o valor de p<0,05 foi considerado significativo. RESULTADOS: Identificaram-se 42 potenciais doadores (18 na Fase 1 e 24 na Fase 2). Houve diminuição do tempo entre a primeira exploração clínica e o explante (Fase 1: 35,0±15,5 horas versus Fase 2: 24,6±6,2 horas; p=0,023). Houve aumento na aderência em 10 dos 19 itens essenciais de manutenção, e redução nas perdas por parada cardíaca (Fase 1: 27,8 versus 0% na Fase 2; p=0,006) com aumento de doadores reais (Fase 1: 44,4 versus 75% na Fase 2; p=0,044). Não houve mudança nas perdas por negativa familiar ou por contraindicação médica. CONCLUSÃO: A adoção de um protocolo gerenciado promove a aplicação de medidas essenciais no cuidado do potencial doador falecido e pode reduzir as perdas de potenciais doadores por parada cardíaca.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2011;23(4):455-461
DOI 10.1590/S0103-507X2011000400010
OBJECTIVOS: A hipotermia terapêutica demonstrou ter efeitos neuro e cardioprotectores, com melhoria da sobrevida e redução das sequelas neurológicas em doentes vítimas de paragem cardio-respiratória. O objectivo deste estudo foi avaliar a evolução dos doentes submetidos a hipotermia terapêutica após paragem cardio-respiratória. MÉTODOS: Estudo prospectivo observacional dos doentes submetidos a hipotermia terapêutica após paragem cardio-respiratória numa unidade de cuidados intensivos polivalente durante 10 meses. Aos doentes admitidos até 12 horas após paragem cardio-respiratória foi induzida a hipotermia terapêutica através da administração de fluidos arrefecidos e arrefecimento corporal externo e mantida a temperatura alvo, 33°C, durante 24 horas. RESULTADOS: Foram incluídos 12 doentes, idade (mediana) de 64 anos, 58% do sexo masculino. A paragem cardio-respiratória ocorreu em meio hospitalar em 6 doentes. O índice de Charlson, o Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) e o Acute Physiology and Chronic Health Evaluation II, no primeiro dia, foram 2.9 [IIQ 6.8], 11 [IIQ 2.75], e 24.5 [IIQ 15.25], respectivamente. A taxa de mortalidade na unidade de cuidados intensivos polivalente foi de 42% (N=5). Dos 7 sobreviventes, 5 recuperaram o estado neurológico prévio à paragem cardio-respiratória. A hipotermia terapêutica foi iniciada cerca de 120 minutos [IIQ 78.75], após recuperação de circulação espontânea. A maioria dos doentes (75%) necessitou de suporte vasopressor. Foi constatado, nos 3 dias subsequentes à paragem cardio-respiratória e hipotermia terapêutica, uma diminuição do valor mediano de SOFA (11[IIQ 2.75], no dia 0, 10 [IIQ 3], no dia 1 e 7 [IIQ 4.5], no dia 2). CONCLUSÃO: A aplicação de um protocolo de hipotermia terapêutica revelou ser simples e eficaz e permitiu obter em doentes com indicação, boa recuperação neurológica.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2010;22(2):196-205
DOI 10.1590/S0103-507X2010000200015
A parada cardiorrespiratória é um evento de alta mortalidade. A isquemia cerebral difusa relacionada ao hipofluxo cerebral frequentemente leva à injúria neurológica grave e ao desenvolvimento de estado vegetativo persistente. A hipotermia terapêutica representa um importante avanço no tratamento da encefalopatia anóxica pós-parada cardíaca. Seus efeitos neuroprotetores têm sido amplamente demonstrados em várias situações de isquemia neuronal. Apesar de ser um procedimento associado com redução de mortalidade nesses pacientes, a hipotermia ainda é um tratamento subutilizado no manejo da síndrome pós-ressuscitação. Nosso objetivo é revisar aspectos referentes aos mecanismos de ação da hipotermia e seus efeitos em pacientes críticos reanimados pós- parada cardiorrespiratória e propor um protocolo assistencial simples, que possa ser implantado em qualquer unidade de terapia intensiva.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2010;22(2):153-158
DOI 10.1590/S0103-507X2010000200009
INTRODUÇÃO: As principais causas de parada cardiorrespiratória são endêmicas e exigem do médico constante aperfeiçoamento no que se refere à reanimação cardiorrespiratória, tornando o treinamento e a educação continuada essenciais ao atendimento qualificado de parada cardiorrespiratória. OBJETIVO: O objetivo deste estudo foi avaliar o conhecimento teórico de médicos sobre diagnóstico e tratamento da parada cardiorrespiratória. MÉTODOS: Trata-se de pesquisa de corte transversal e descritiva em hospital geral terciário de Roraima. A população foi composta por médicos que atuam em unidades de pronto atendimento. Para coleta de dados foi utilizado questionário com perguntas sobre o tema e busca ativa dos profissionais em seus locais de trabalho. RESULTADOS: Responderam ao questionário 44 profissionais. A média de acertos foi de 50%. Cometeram "erros fatais" 88,5% dos profissionais. Cursos de treinamento nunca foram realizados por 54,5% dos médicos. Não houve correlação entre número de acertos e realização de cursos de treinamento. Houve correlação inversamente proporcional entre desempenho e idade, mas não houve diferença estatisticamente significativa entre desempenho e tempo de graduação. CONCLUSÃO: o conhecimento teórico dos médicos mostrou-se preocupante. Os dados apontam para a importância do treinamento de profissionais em suporte avançado de vida para garantir um padrão de qualidade no atendimento à parada cardiorrespiratória neste hospital geral.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2009;21(4):437-445
DOI 10.1590/S0103-507X2009000400015
Nos últimos anos, com o avanço tecnológico e a experiência adquirida, o ecocardiograma tem se tornado uma ferramenta importante e cada vez mais utilizada no ambiente de terapia intensiva. As informações obtidas, através da ecocardiografia transtorácica e da ecocardiografia transesofágica corroboraram com o monitoramento e o cuidado centrado no paciente. Seu papel como ferramenta de diagnóstico, prognóstico e monitoramento da resposta à infusão de fluidos (fluído-responsividade) tornaram-se disponíveis nos dias de hoje, em razão da portabilidade e diminuição dos custos na aquisição dos equipamentos. O treinamento adequado, assim como o desenvolvimento de diretrizes relacionadas à utilização do ecocardiograma na unidade de terapia intensiva, possibilitarão a padronização deste método assim como sua implementação à beira do leito.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2009;21(4):369-375
DOI 10.1590/S0103-507X2009000400006
OBJETIVO: Conhecer as características dos pacientes submetidos a um protocolo operacional padrão institucional de atendimento a pacientes reanimados após episódio de parada cardiorrespiratória incluindo a aplicação de hipotermia terapêutica. MÉTODOS: Foram analisados retrospectivamente 26 pacientes consecutivos após episódio de parada cardiorrespiratória de janeiro de 2007 a novembro de 2008. RESULTADOS: Todos os casos foram submetidos a hipotermia terapêutica. Idade média de 63 anos, predominantemente do sexo masculino. O local da parada cardiorrespiratória foi extra-hospitalar em 8 casos, pronto socorro em 3, durante internação fora da unidade de terapia intensiva em 13 casos e o bloco cirúrgico em 2 casos. O ritmo de parada foi fibrilação ventricular em sete pacientes, assistolia em 11, atividade elétrica sem pulso em 5 casos e não foi determinado em 3 pacientes. O intervalo entre a parada e o retorno à circulação espontânea foi de 12 ± 5 minutos. O tempo requerido para alcançar a temperatura alvo foi de 5 ± 4 horas, o tempo de hipotermia foi de 22 ± 6 horas e para o reaquecimento usaram-se 9 ± 5,9 horas. Catorze pacientes evoluíram a óbito na unidade de terapia intensiva, representando uma mortalidade de 54%, e três pacientes tiveram o mesmo desfecho durante a internação, determinando uma mortalidade intra-hospitalar de 66%. Houve redução estatisticamente significativa dos valores de hemoglobina (p <0,001), leucócitos (p=0,001), plaquetas (p<0,001), lactato (p<0,001) e potássio (p=0,009), e aumento de proteína C reativa (p=0,001) e RNI (p=0,004) após aplicação de hipotermia. CONCLUSÕES: A elaboração de protocolo operacional padrão de hipotermia terapêutica para o tratamento de pacientes com parada cardiorrespiratória, utilizando-se das rotinas adaptadas de estudos randomizados, resultou em elevada aderência e seus resultados assemelham-se aos dados publicados na literatura.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2009;21(1):65-71
DOI 10.1590/S0103-507X2009000100010
Os sobreviventes de parada cardiorrespiratória freqüentemente apresentam lesão cerebral isquêmica associada a piores desfechos neurológicos e óbito. A hipotermia terapêutica melhora os desfechos entre os sobreviventes comatosos após manobras de reanimação. Considerando sua recomendação formal para emprego terapêutico pós-recuperação da circulação espontânea na parada cardiorrespiratória, o objetivo deste estudo foi rever os principais aspectos clínicos relativos à hipotermia terapêutica. Foi feita revisão através de pesquisa não-sistemática de artigos através das palavras-chave "parada cardiorrespiratória, resfriamento, hipotermia, síndrome pós-reanimação" na base de dados MedLine. Adicionalmente, referências destes artigos foram igualmente avaliadas. Pacientes adultos inconscientes com circulação espontânea após parada cardiorrespiratória extra-hospitalar devem ser resfriados quando o ritmo inicial for fibrilação ventricular ou taquicardia ventricular. Este resfriamento pode ser benéfico para os outros ritmos e para o ambiente intra-hospitalar. Existem várias formas diferentes de induzir a hipotermia. O sistema de resfriamento deve atingir a temperatura alvo o mais rápido possível. O reaquecimento para 36º C deve ser realizado em não menos do que 8 horas. Quando a temperatura aumenta para mais de 35º C, sedação, analgesia e paralisia podem ser descontinuadas. As complicações esperadas da hipotermia terapêutica podem incluir pneumonia, sepse, disritmias cardíacas e coagulopatias. A despeito de potenciais complicações que necessitam de cuidadosa monitoração, apenas seis pacientes precisam ser tratados com hipotermia induzida pós- parada cardiorrespiratória para salvar uma vida.