Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(3):333-339
DOI 10.5935/0103-507X.20190045
Descrever o uso da ventilação não invasiva na prevenção da intubação traqueal em crianças em unidade de terapia intensiva pediátrica e analisar os fatores relacionados à falha.
Coorte retrospectiva referente ao período de janeiro 2016 a maio 2018. População composta por crianças entre1mês a14 anos, submetidas à ventilação não invasiva como primeira escolha terapêutica para insuficiência respiratória aguda. Analisaram-se os dados biológicos, clínicos e gerenciais, sendo aplicado um modelo com as variáveis que obtiveram significância ≤ 0,20 na análise bivariada. Foi realizada regressão logística pelo método de ENTER. Considerou-se nível de significância de 5%.
As crianças tiveram média de idade de 68,7 ± 42,3 meses, 96,6% tiveram como diagnóstico principal doença respiratória e 15,8% apresentavam comorbidades. Do total de 209, a ventilação não invasiva foi realizada como primeira opção de suporte ventilatório em 86,6% dos pacientes e a fração inspirada de oxigênio ≥ 0,40 em 47% dos casos. A letalidade foi de 1,4%. O gerenciamento dos dados do uso da ventilação não invasiva demonstrou alta taxa de sucesso, sendo esta de 95,3% (84,32 - 106). As variáveis clínicas significantes no sucesso ou na falha da ventilação não invasiva foram o Pediatric Risk of Mortality (PRISM) e o tempo de estadia na unidade de terapia intensiva.
Observou-se alta taxa de efetividade no uso da ventilação não invasiva para episódios agudos de insuficiência respiratória. PRISM de admissão mais altos, comorbidades associadas ao quadro respiratório e uso de oxigênio ≥ 40%foram fatores independentes relacionados à falha da ventilação não invasiva.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(3):340-346
DOI 10.5935/0103-507X.20190049
Identificar os fatores de base que afetam a ressuscitação com fluidos em pacientes sépticos.
Estudo de caso-controle com 181 pacientes consecutivos admitidos a uma unidade de terapia intensiva clínica entre 2012 e 2016 com diagnóstico de sepse. Analisaram-se os dados demográficos, clínicos, radiológicos e laboratoriais.
Receberam volume ≥ 30mL/kg de fluidos por via endovenosa quando da admissão 130 pacientes (72%). Nas análises univariadas, histórico pregresso de doença arterial coronária e insuficiência cardíaca se associou com menor volume de terapia com fluidos. Nas análises multivariadas, um histórico de insuficiência cardíaca (RC = 2,31; IC95% 1,04 - 5,14) permaneceu significantemente associado com o recebimento de menor volume de fluidos por via endovenosa. A fração de ejeção ventricular esquerda, a função sistólica/diastólica, hipertrofia ventricular esquerda e hipertensão pulmonar não se associaram com a quantidade de fluidos por via endovenosa. A quantidade de fluidos administrados por via endovenosa não se associou com diferenças em termos de mortalidade. Durante as primeiras 24 horas, pacientes com antecedentes de insuficiência cardíaca receberam 2.900mL de fluidos endovenosos (1.688 - 4.714mL) em comparação com 3.977mL (2.500 - 6.200mL) recebidos pelos pacientes sem histórico de insuficiência cardíaca (p = 0,02).
Pacientes sépticos com história pregressa de insuficiência cardíaca receberam 1L de fluidos por via endovenosa a menos nas primeiras 24 horas, sem diferenças em termos de mortalidade.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(3):347-353
DOI 10.5935/0103-507X.20190047
Verificar a ocorrência e as características de atelectasias, opacidades, hipotransparências e infiltrados pulmonares evidenciados ao raio X de tórax dos recém-nascidos prematuros, de uma unidade de terapia intensiva neonatal.
Trata-se de estudo observacional transversal. No período de agosto a dezembro de 2017 foram analisadas todas as radiografias de tórax de recém-nascidos. Foram incluídas no estudo as radiografias de tórax de recém-nascidos prematuros com idade gestacional até 36 semanas, no período neonatal que apresentassem alterações evidentes na imagem ou suspeita de alterações, que fossem confirmadas após laudo do médico radiologista. As alterações radiológicas foram associadas com possíveis fatores predisponentes.
No período, foram realizadas 450 radiografias nos recém-nascidos prematuros, sendo que, em 37, foram descritas quatro alterações: 12 (2,66%) descritas como opacidades, 11 (2,44%) como atelectasias, 10 (2,22%) como infiltrados pulmonares e 4 (0,88%) como hipotransparências. Observou-se maior ocorrência das atelectasias no pulmão direito (81,8%). Dentre as radiografias com alterações, 25 (67,6%) recém-nascidos estavam sob o uso da ventilação mecânica invasiva.
Considerando o laudo radiológico, as alterações observadas têm ocorrências sem diferença estatisticamente significante. A atelectasia não foi a alteração mais encontrada. Os fatores que podem ter predisposto ao aparecimento das alterações foram a prematuridade extrema, o baixo peso, o sexo masculino, o mal posicionamento da cânula endotraqueal e o uso de ventilação mecânica invasiva.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(3):354-360
DOI 10.5935/0103-507X.20190058
Avaliar a concordância entre médicos intensivistas que receberam treinamento semelhante para utilização do ultrassom pulmonar à beira do leito, na identificação das linhas B pulmonares visualizadas em tempo real, a fim de verificar a reprodutibilidade do método.
Foram analisados 67 pacientes que apresentaram alguma piora ventilatória identificada nas últimas 12 horas da realização do ultrassom pulmonar, no período de novembro de 2016 a março de 2017, estando todos internados em um centro de terapia intensiva de um hospital privado de Belo Horizonte (MG). Os ultrassons pulmonares foram realizados por três profissionais diferentes, denominados A, B e C, sendo o intervalo de tempo entre cada ultrassom pulmonar menor que 3 horas. As zonas torácicas visualizadas foram apenas as anteriores e laterais, sendo definidas como zonas anteriores (1) direita e esquerda (Z1D e Z1E, respectivamente), delimitadas pela clavícula, esterno, linha horizontal perpendicular ao processo xifoide e linha axilar anterior; e zonas laterais (2) direita e esquerda (Z2D e Z2E, respectivamente), abrangendo a área entre linha axilar anterior e posterior lateralmente, tendo como limite inferior a mesma linha horizontal correspondente à altura do processo xifoide. Uma zona pulmonar era considerada positiva para linhas B, quando houvesse visualização de três ou mais dessas linhas, caracterizando possível síndrome interstício-alveolar. Por meio do valor Kappa, avaliamos a concordância dentre as quatro zonas, conforme execução de cada dupla de profissional (AB, AC e BC).
Cerca de 80% das áreas visualizadas tiveram concordância classificada como moderada a substancial, com Kappa variando de 0,41 - 079 (p < 0,05; IC95%). Os maiores graus de concordância ocorreram nas zonas superiores Z1D e Z1E entre os subgrupos AC e BC, com Kappa em torno de 0,65 (p < 0,001). Já a Z2E apresentou uma das menores concordâncias, com Kappa de 0,36.
A possível limitação do ultrassom pulmonar quanto ao efeito examinador-dependente não se mostrou presente neste trabalho, sugerindo boa reprodutibilidade dessa modalidade diagnóstica à beira do leito.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(3):361-367
DOI 10.5935/0103-507X.20190059
Comparar o impacto de duas estratégias de fast track quanto ao momento de extubação e retirada da ventilação mecânica invasiva de adultos no pós-operatório cardíaco em desfechos clínicos e hospitalares.
Estudo de coorte retrospectivo com pacientes submetidos à cirurgia cardíaca. Os pacientes foram classificados de acordo com o tempo de extubação em Grupo Controle (extubados após 6 horas de admissão na unidade de terapia intensiva, com tempo máximo de ventilação mecânica de 18 horas), Grupo 1 (extubados em sala de operação após término da cirurgia) e Grupo 2 (extubados em até 6 horas pós-admissão na unidade de terapia intensiva). Os desfechos primários analisados foram: capacidade vital no primeiro dia de pós-operatório, tempo de internamento hospitalar e na unidade de terapia intensiva. Os desfechos secundários foram reintubação, pneumonia adquirida no hospital, sepse e óbito.
Para os 223 pacientes avaliados, a capacidade vital foi menor nos Grupos 1 e 2 comparados ao Controle (p = 0,000 e p = 0,046, respectivamente). Os dias de internamento em unidade de terapia intensiva foram significativamente menores nos Grupos 1 e 2 quando comparados ao Controle (p = 0,009 e p = 0,000, respectivamente), já os dias de internamento hospitalar foram menores no Grupo 1 quando comparado ao Controle (p = 0,014). Houve associação entre a extubação na sala de operação (Grupo 1) com reintubação (p = 0,025) e complicações pós-cirúrgicas (p=0,038).
Pacientes submetidos ao fast track com extubação em até 6 horas apresentaram menor tempo de internamento em unidade de terapia intensiva sem aumentar complicações pós-cirúrgicas e óbito. Pacientes extubados em sala de operação tiveram menor tempo de internamento hospitalar e em unidade de terapia intensiva, mas apresentaram aumento na frequência de reintubação e complicações pós-cirúrgicas.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(3):368-378
DOI 10.5935/0103-507X.20190060
A sepse persiste como importante sobrecarga à saúde pública nos Estados Unidos e em todo o mundo. Com o crescente uso de tecnologias laboratoriais, tem se renovado o interesse na utilização de biomarcadores na sepse, para auxiliar em um processo mais preciso e direcionado para tomadas de decisão. Os peptídeos natriuréticos vem sendo cada vez mais reconhecidos por seu papel que vai além da insuficiência cardíaca. Estes peptídeos estão comumente elevados em pacientes críticos que apresentam condições de disfunção cardiopulmonar e podem ter papel na identificação de pacientes com sepse e choque séptico. São poucos os dados disponíveis em relação ao papel destes biomarcadores no diagnóstico, no controle, nos desfechos e no prognóstico de pacientes sépticos. Esta revisão procura descrever o papel dos peptídeos natriuréticos na ressuscitação volêmica, no diagnóstico de disfunção ventricular, nos desfechos e no prognóstico de pacientes com sepse. Tem sido observado que o peptídeo natriurético tipo B (BNP) e o fragmento N-terminal do peptídeo natriurético tipo B (NT-proBNP) se associam com disfunção ventricular sistólica e diastólica, tanto esquerda quanto direita, em pacientes com cardiomiopatia séptica. O BNP e o NT-proBNP podem predizer a responsividade a volume, e as tendências de medidas seriadas destes peptídeos podem ser importantes na ressuscitação volêmica. A despeito da sugestão de correlação com mortalidade, o papel do BNP nos desfechos de mortalidade e prognóstico, durante a sepse, ainda necessita melhor avaliação.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(3):379-385
DOI 10.5935/0103-507X.20190061
Coletar dados a respeito do uso do escore Nutrition Risk in Critically Ill (NUTRIC).
Conduziu-se pesquisa sistemática da literatura em conformidade com as especificações PRISMA. Excluíram-se da pesquisa os trabalhos referentes a revisões, resumos, dissertações, protocolos e relatos de caso. Foram incluídos estudos que avaliaram especificamente o escore NUTRIC publicados em inglês, espanhol ou português.
Incluímos 12 (0,8%) estudos de nossa busca nesta revisão. Dez eram estudos observacionais (83,3%), um estudo piloto (8,3%) e um ensaio randomizado e controlado (8,3%). Em todos os estudos incluídos (100%), os autores decidiram não utilizar dosagem de interleucina 6 e consideraram como ponto de corte para alto risco nutricional um escore ≥ 5. Dentre os estudos selecionados, 11 (91,7%) estavam em idioma inglês e um (8,3%) em espanhol. Ventilação mecânica e o escore NUTRIC tiveram correlação significante em quatro estudos. A associação entre o tempo de permanência no hospital ou na unidade de terapia intensiva e o alto risco nutricional apresentou correlação significante em três estudos. Sete estudos identificaram associação estatisticamente significante entre escore NUTRIC e mortalidade.
O escore NUTRIC tem relação com desfechos clínicos, como tempo de permanência no hospital, e seu uso é apropriado em pacientes críticos na unidade de terapia intensiva.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(3):386-392
DOI 10.5935/0103-507X.20190051
A melhoria da qualidade da ressuscitação cardiopulmonar vem reduzindo a mortalidade dos indivíduos atendidos em parada cardiorrespiratória. Porém, os sobreviventes apresentam risco elevado de dano cerebral grave em caso de retorno à circulação espontânea. Dados sugerem que paradas cardiorrespiratórias, que ocorram em pacientes criticamente doentes com ritmos cardíacos não chocáveis, apresentem somente 6% de chance de retorno à circulação espontânea e, destes, somente um terço consiga recuperar sua autonomia. Optaríamos, assim, pela realização de um procedimento em que a chance de sobrevida é mínima, e os sobreviventes apresentam risco de aproximadamente 70% de morte hospitalar ou dano cerebral grave e definitivo? Valeria a pena discutir se este paciente é ou não ressuscitável, em caso de parada cardiorrespiratória? Esta discussão traria algum benefício ao paciente e a seus familiares? As discussões avançadas de não ressuscitação se baseiam no princípio ético do respeito pela autonomia do paciente, pois o desejo dos familiares e dos médicos, muitas vezes, não se correlaciona adequadamente aos dos pacientes. Não somente pela ótica da autonomia, as discussões avançadas podem ajudar a equipe médica e assistencial a anteciparem problemas futuros, fazendo-os planejar melhor o cuidado dos enfermos. Ou seja, nossa opinião é a de que discussões sobre ressuscitação ou não dos pacientes criticamente doentes devam ser realizadas em todos os casos internados na unidade de terapia intensiva logo nas primeiras 24 a 48 horas de internação.