Resumo
Crit Care Sci. 2023;35(3):243-255
DOI 10.5935/2965-2774.20230136-pt
Atualizar as recomendações para embasar as decisões para o tratamento farmacológico de pacientes hospitalizados com COVID-19 no Brasil.
A elaboração desta diretriz foi feita por especialistas, incluindo representantes do Ministério da Saúde e metodologistas. O método utilizado para o desenvolvimento rápido de diretrizes baseou-se na adoção e/ou adaptação de diretrizes internacionais existentes (GRADE ADOLOPMENT) e contou com o apoio da plataforma e-COVID-19 RecMap. A qualidade das evidências e a elaboração das recomendações seguiram o método GRADE.
Chegaram-se a 21 recomendações, incluindo recomendações fortes quanto ao uso de corticosteroides em pacientes em uso de oxigênio suplementar e recomendações condicionais para o uso de tocilizumabe e baricitinibe, em pacientes com oxigênio suplementar ou ventilação não invasiva, e de anticoagulantes, para prevenção de tromboembolismo. Devido à suspensão da autorização de uso, não foi possível fazer recomendações para o tratamento com casirivimabe + imdevimabe. Foram feitas recomendações fortes contra o uso de azitromicina em pacientes sem suspeita de infecção bacteriana, hidroxicloroquina, plasma convalescente, colchicina e lopinavir + ritonavir, além de recomendações condicionais contra o uso de ivermectina e rendesivir.
Foram criadas novas recomendações para o tratamento de pacientes hospitalizados com COVID-19, como as recomendações de tocilizumabe e baricitinibe. Ainda são recomendados corticosteroides e profilaxia contra tromboembolismo, esta em caráter condicional. Vários medicamentos foram considerados ineficazes e não devem ser usados, no intuito de proporcionar o melhor tratamento segundo os princípios da medicina baseada em evidências e promover a economia de recursos.
Resumo
Crit Care Sci. 2023;35(3):256-265
DOI 10.5935/2965-2774.20230129-pt
A doença crítica é um importante ônus permanente da assistência médica em todo o mundo e está associada a altas taxas de mortalidade. Os inibidores do cotransportador de sódio-glicose do tipo 2 têm demonstrado consistentemente benefícios nos desfechos cardiovasculares e renais. Os efeitos dos inibidores do cotransportador de sódio-glicose do tipo 2 em doenças agudas ainda não foram devidamente investigados.
O DEFENDER é um estudo de iniciativa do investigador, multicêntrico, randomizado, aberto, desenhado para avaliar a eficácia e a segurança da dapagliflozina em 500 participantes adultos com disfunção orgânica aguda hospitalizados na unidade de terapia intensiva. Os participantes aptos serão randomizados 1:1 para receber 10mg de dapagliflozina e o tratamento padrão por até 14 dias ou apenas o tratamento padrão. O desfecho primário é um composto hierárquico de mortalidade hospitalar, início de terapia renal substitutiva e tempo de internação na unidade de terapia intensiva, até 28 dias. O monitoramento da segurança será rigoroso durante todo o estudo.
O DEFENDER é o primeiro estudo desenvolvido para investigar o uso de um inibidor do cotransportador de sódio-glicose do tipo 2 em pacientes de unidade de terapia intensiva geral com disfunção orgânica aguda. O estudo fornecerá informações relevantes sobre o uso de medicamentos dessa classe promissora em pacientes críticos.
NCT05558098
Resumo
Crit Care Sci. 2023;35(3):266-272
DOI 10.5935/2965-2774.20230223-pt
O objetivo deste estudo será apresentar o protocolo de um ensaio clínico randomizado em cluster a ser realizado por meio do projeto TeleUTI - Qualificação da Assistência em Terapia Intensiva por Telemedicina. O estudo consistirá em um ensaio clínico randomizado por cluster, open label, em unidades de terapia intensiva pediátricas, com proporção de alocação de 1:1, com o intuito de comparar o grupo de intervenção (apoio da telemedicina para os pacientes internados na unidade de terapia intensiva pediátrica) com um grupo controle (cuidados habituais da unidade de terapia intensiva pediátrica). O estudo se propõe a selecionar 16 unidades de terapia intensiva pediátricas, incluindo 100 participantes por local, com o total de 1.600 participantes. O grupo intervenção receberá telerounds de segunda-feira a sexta-feira e terá à disposição especialistas e atividades de educação continuada. O desfecho primário a ser avaliado será o tempo de permanência nas unidades de terapia intensiva pediátricas, definido pela diferença entre a data de alta do participante com a data de admissão na unidade de terapia intensiva. Os desfechos secundários serão: taxa de mortalidade; dias livres de ventilação mecânica, dias de uso de antibióticos, dias de uso de drogas vasoativas e dias de uso de sedoanalgesia. Este estudo será conduzido em conformidade com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, com aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa das instituições hospitalares envolvidas. O trabalho tem o potencial de reproduzir estudos sobre Telemedicina em cuidados intensivos, podendo trazer contribuições importantes ao atendimento em unidades de terapia intensiva no Brasil e em outras realidades. Se a Telemedicina mostrar resultados clínicos assistenciais positivos em relação ao tratamento convencional, mais pacientes pediátricos poderão ser beneficiados.
Registro ClinicalTrials.gov: NCT05260710
Resumo
Crit Care Sci. 2023;35(3):273-280
DOI 10.5935/2965-2774.20230359-pt
Descrever o papel dos fisioterapeutas na assistência a pacientes com suspeita ou diagnóstico da COVID-19 internados em unidades de terapia intensiva no Brasil em relação a: formação técnica, tempo de trabalho, prática assistencial, condições de trabalho e remuneração.
Foi realizado um inquérito transversal analítico com questionário eletrônico distribuído aos fisioterapeutas que atuavam no atendimento de pacientes com COVID-19 em unidades de terapia intensiva brasileiras.
Foram preenchidos 657 questionários por fisioterapeutas das cinco regiões do país, sendo que 85,3% trabalhavam em unidades de terapia intensiva adulto, 5,4% em neonatal, 5,3% em pediátrica e 3,8% em unidades de terapia intensiva mista (pediátrica e neonatal). Nas unidades de terapia intensiva com um fisioterapeuta disponível 24 horas por dia, os fisioterapeutas trabalharam com mais frequência (90,6%) na montagem, titulação e monitoramento da ventilação não invasiva (p = 0,001). A maioria das UTIs com fisioterapia 12 horas por dia (25,8%) não aplicou nenhum protocolo comparativamente às unidades de terapia intensiva com fisioterapia 18 horas por dia (9,9%) e às de 24 horas por dia (10,2%) (p = 0,032). A maioria dos entrevistados (51,0%) recebia remuneração de duas a três vezes o salário mínimo, e apenas 25,1% recebiam pagamento adicional por trabalhar com pacientes com suspeita ou diagnóstico da COVID-19; 85,7% deles não enfrentaram falta de Equipamentos de Proteção Individual.
As unidades de terapia intensiva com fisioterapeutas 24 horas por dia apresentaram maiores porcentagens de protocolos e ventilação não invasiva para pacientes com COVID-19. A utilização de recursos específicos variou entre os tipos de unidades de terapia intensiva e hospitais e em relação às condições de trabalho dos fisioterapeutas. Este estudo mostrou que a maioria dos profissionais tinha pouca experiência em terapia intensiva e baixa remuneração.
Resumo
Crit Care Sci. 2023;35(3):290-301
DOI 10.5935/2965-2774.20230388-pt
Determinar a prevalência e os fatores associados à reabilitação física de crianças em estado grave em unidades de terapia intensiva pediátrica brasileiras.
Realizou-se um estudo de prevalência pontual multicêntrico, transversal, de 2 dias, abrangendo 27 unidades de terapia intensiva pediátrica (do total de 738) no Brasil em abril e junho de 2019. Este estudo brasileiro fez parte de um grande estudo multinacional chamado Prevalence of Acute Rehabilitation for Kids in the PICU (PARK-PICU). O desfecho primário foi a prevalência de mobilidade proporcionada pela fisioterapia ou pela terapia ocupacional. Foram coletados prospectivamente dados clínicos sobre a mobilidade do paciente, possíveis eventos de segurança de mobilidade e barreiras de mobilização em pacientes admitidos por ≥ 72 horas.
As crianças com idade inferior a 3 anos eram 68% da população de pacientes. A prevalência de mobilidade fornecida pelo terapeuta foi de 74%, ou 277 dos 375 pacientes-dia. A mobilidade para fora do leito foi mais positivamente associada à presença de familiares (razão de chance ajustada de 3,31; IC95% 1,70 - 6,43) e mais negativamente associada às linhas arteriais (razão de chance ajustada de 0,16; IC95% 0,05 - 0,57). Foram relatadas barreiras à mobilização em 27% dos pacientes-dia, sendo a mais comum a falta de prescrição médica (n = 18). Registaram-se eventuais eventos de segurança em 3% de todos os eventos de mobilização.
A mobilidade proporcionada pelo terapeuta nas unidades de terapia intensiva pediátrica brasileiras é frequente. A presença de familiares foi alta e positivamente associada à mobilidade para fora do leito. A presença de fisioterapeutas 24 horas por dia nas unidades de terapia intensiva pediátrica brasileiras pode exercer papel importante na mobilização de crianças em estado grave.
Resumo
Crit Care Sci. 2023;35(3):302-310
DOI 10.5935/2965-2774.20230141-pt
Avaliar a acurácia do persistent AKI risk index (PARI) na predição de injúria renal aguda em 72 horas após a admissão em unidade de terapia intensiva, injúria renal aguda persistente, terapia de substituição renal e óbito, em até 7 dias em pacientes internados por insuficiência respiratória aguda.
Estudo de método-diagnóstico com base em coorte de inclusão consecutiva de pacientes adultos internados em unidade de terapia intensiva de oito hospitais de Curitiba (PR) entre março e setembro de 2020, por insuficiência respiratória aguda secundária à suspeita de COVID-19, com confirmação ou refutação diagnóstica dada pelo resultado de RT-PCR para detecção do SARS-CoV-2. O potencial preditor do PARI foi analisado por curva ROC em relação a delta creatinina, SOFA e APACHE II, para os desfechos injúria renal aguda em 72 horas; injúria renal aguda persistente; terapia de substituição renal e mortalidade em até 7 dias.
Dos 1.001 pacientes da coorte, 538 foram incluídos na análise. A média de idade foi de 62 ± 17 anos, 54,8% eram homens e o APACHE II mediano foi de 12. Na admissão, o SOFA mediano era 3, e 83,3% não apresentavam disfunção renal. Após admissão na unidade de terapia intensiva, 17,1% apresentaram injúria renal aguda em 72 horas e, até o sétimo dia, 19,5% apresentaram injúria renal aguda persistente, 5% realizaram terapia de substituição renal, e 17,1% foram a óbito. O PARI apresentou área sob a curva ROC de 0,75 (0,696 - 0,807) para predição de injúria renal aguda em 72 horas, 0,71 (0,613 - 0,807) para terapia de substituição renal e 0,64 (0,565 - 0,710) para mortalidade.
O PARI tem acurácia aceitável na predição de injúria renal aguda em 72 horas e terapia de substituição renal em até 7 dias da admissão na unidade de terapia intensiva, porém sem diferença significativa dos demais escores.
Resumo
Crit Care Sci. 2023;35(3):320-327
DOI 10.5935/2965-2774.20230165-pt
Traduzir e realizar a adaptação transcultural dos pontos âncoras da escala Cornell Assessment of Pediatric Delirium do inglês para a língua portuguesa do Brasil.
O processo de tradução e adaptação transcultural dos pontos âncoras seguiu todas as etapas recomendadas internacionalmente após a autorização de uso pela autora principal. As etapas foram: tradução da versão original para língua portuguesa por dois tradutores bilíngues nativos do idioma-alvo; síntese das versões; tradução reversa por dois tradutores nativos do idioma de origem; revisão e síntese da retradução; revisão por um comitê de juízes formado por especialistas e elaboração da versão final.
O processo de tradução e adaptação transcultural dos pontos âncoras seguiu as recomendações. As questões linguísticas e semânticas que surgiram foram discutidas pelo comitê de juízes, no qual se observou concordância de 91,8% pela escala de Likert com pequenas alterações de forma consensual. Após reanálise dos autores, não houve alterações, resultando na versão final, de fácil compreensão e administração.
A tradução e a adaptação transcultural dos pontos âncoras da escala de Cornell Assessment of Pediatric Delirium para a língua portuguesa falada no Brasil foram bem-sucedidas com manutenção das propriedades linguísticas e semânticas do instrumento original. A tabela dos pontos âncoras mostrou ser de fácil compreensão e auxílio durante a avaliação das crianças abaixo de 24 meses por meio da escala de Cornell Assessment of Pediatric Delirium.