Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(2):196-205
DOI 10.5935/0103-507X.20210027
Identificar apresentações mais graves de COVID-19.
Pacientes consecutivamente admitidos à unidade de terapia intensiva foram submetidos à análise de clusters por meio de método de explorações sequenciais
Analisamos os dados de 147 pacientes, com média de idade de 56 ± 16 anos e Simplified Acute Physiological Score 3 de 72 ± 18, dos quais 103 (70%) demandaram ventilação mecânica e 46 (31%) morreram na unidade de terapia intensiva. A partir do algoritmo de análise de clusters, identificaram-se dois grupos bem definidos, com base na frequência cardíaca máxima [Grupo A: 104 (IC95% 99 - 109) batimentos por minuto versus Grupo B: 159 (IC95% 155 - 163) batimentos por minuto], frequência respiratória máxima [Grupo A: 33 (IC95% 31 - 35) respirações por minuto versus Grupo B: 50 (IC95% 47 - 53) respirações por minuto] e na temperatura corpórea máxima [Grupo A: 37,4 (IC95% 37,1 - 37,7)ºC versus Grupo B: 39,3 (IC95% 39,1 - 39,5)ºC] durante o tempo de permanência na unidade de terapia intensiva, assim como a proporção entre a pressão parcial de oxigênio no sangue e a fração inspirada de oxigênio quando da admissão à unidade de terapia intensiva [Grupo A: 116 (IC95% 99 - 133) mmHg versus Grupo B: 78 (IC95% 63 - 93) mmHg]. Os subfenótipos foram distintos em termos de perfis inflamatórios, disfunções orgânicas, terapias de suporte, tempo de permanência na unidade de terapia intensiva e mortalidade na unidade de terapia intensiva (com proporção de 4,2 entre os grupos).
Nossos achados, baseados em dados clínicos universalmente disponíveis, revelaram dois subfenótipos distintos, com diferentes evoluções de doença. Estes resultados podem ajudar os profissionais de saúde na alocação de recursos e seleção de pacientes para teste de novas terapias.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(2):320-324
DOI 10.5935/0103-507X.20210041
Apresentação de um caso de infecção por Influenza B e doença de Kawasaki em adolescente ocorrido durante a pandemia da COVID-19. Adolescente asmática evoluiu com febre e síndrome gripal por 7 dias e deu entrada com quadro de insuficiência respiratória aguda, necessitando de intubação orotraqueal. Evoluiu também com instabilidade hemodinâmica respondedora ao uso de droga vasoativa. Foram introduzidas antibioticoterapia e medidas de suporte. Apresentou melhora hemodinâmica e respiratória progressiva, porém mantinha febre e alteração de provas inflamatórias. Durante internação, evoluiu com conjuntivite não purulenta bilateral, descamação de mão e pés, língua em framboesa e linfonodomegalia cervical, recebendo diagnóstico de doença de Kawasaki. Recebeu gamaglobulina e, por conta de quadro clínico refratário, foi administrado também corticoide, evoluindo afebril 24 horas após. Não apresentou alterações coronarianas. O único agente isolado foi Influenza B, mesmo realizando painel viral e investigação para COVID-19 com reação em cadeia da polimerase e sorologia. Durante internação, apresentou tromboembolismo pulmonar, e, em investigação de coagulopatias, foi diagnosticada com mutação em heterozigose de fator V de Leiden. Há uma potencial associação entre doença de Kawasaki e infecção por Influenza B ou outros vírus, como o coronavírus e, por isso, esses diagnósticos devem ser investigados nos pacientes pediátricos, incluindo adolescentes, com quadros febris prolongados.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(2):325-325
DOI 10.5935/0103-507X.20210042
A COVID-19 foi declarada pandemia pela Organização Mundial de Saúde no dia 11 de março de 2020. O quadro clínico apresenta predominantemente sintomatologia respiratória, no entanto, na literatura atual, têm sido descritas diversas manifestações neurológicas associadas à infeção por SARS-CoV-2. Os autores apresentam o caso clínico de um homem de 45 anos internado por pneumonia com resultado positivo para SARS-CoV-2, sem antecedentes neurológicos, que, ao décimo sexto dia de internamento, apresentou alteração súbita do estado de consciência acompanhada de desvio conjugado do olhar para a direita e mioclonias da face e da região torácica à esquerda, seguidas de crise convulsiva tônico-clônica generalizada, associadas à hemiparesia esquerda persistente. Do estudo realizado salienta-se a existência de RT-PCR para SARS-CoV-2 no líquido cefalorraquidiano positiva. O doente apresentou evolução clínica com melhoria gradual, tendo o desfecho sido favorável.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(1):68-74
DOI 10.5935/0103-507X.20210006
Analisar se as modificações na atenção médica em razão da aplicação dos protocolos para COVID-19 afetaram os desfechos clínicos de pacientes sem a doença durante a pandemia.
Este foi um estudo observacional de coorte retrospectiva conduzido em uma unidade de terapia intensiva clínica e cirúrgica com 38 leitos, localizada em hospital privado de alta complexidade na cidade de Buenos Aires, Argentina, e envolveu os pacientes com insuficiência respiratória admitidos à unidade de terapia intensiva no período compreendido entre março e abril de 2020 em comparação com o mesmo período no ano de 2019. Compararam-se as intervenções e os desfechos dos pacientes sem COVID-19 tratados durante a pandemia em 2020 e os pacientes admitidos em 2019. As principais variáveis avaliadas foram os cuidados respiratórios na unidade de terapia intensiva, o número de exames de tomografia computadorizada do tórax e lavados broncoalveolares, complicações na unidade de terapia intensiva e condições quando da alta hospitalar.
Observou-se, em 2020, uma redução significante do uso de cânula nasal de alto fluxo: 14 (42%), em 2019, em comparação com 1 (3%), em 2020. Além disso, em 2020, observou-se aumento significante no número de pacientes sob ventilação mecânica admitidos à unidade de terapia intensiva a partir do pronto-socorro, de 23 (69%) em comparação com 11 (31%) em 2019. Contudo, o número de pacientes com ventilação mecânica 5 dias após a admissão foi semelhante em ambos os anos: 24 (69%), em 2019, e 26 (79%) em 2020.
Os protocolos para unidades de terapia intensiva com base em recomendações internacionais para a pandemia de COVID-19 modificaram o manejo de pacientes sem COVID-19. Observamos redução do uso da cânula nasal de alto fluxo e aumento no número de intubações traqueais no pronto-socorro. Entretanto, não se identificaram alterações na percentagem de pacientes intubados na unidade de terapia intensiva, número de dias sob ventilação mecânica ou número de dias na unidade de terapia intensiva.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(1):75-81
DOI 10.5935/0103-507X.20210007
Detectar precocemente a instabilidade respiratória e hemodinâmica para caracterizar o comprometimento pulmonar em pacientes com COVID-19 grave.
Analisamos retrospectivamente os dados colhidos de pacientes com COVID-19 que apresentaram insuficiência respiratória aguda com necessidade de intubação e ventilação mecânica. Utilizamos a avaliação da termodiluição transpulmonar por meio do dispositivo PiCCO™. Foram coletados os dados demográficos, respiratórios, hemodinâmicos e ecocardiográficos dentro das primeiras 48 horas após a admissão. Para resumir os dados, utilizamos estatística descritiva.
Entre 22 de março e 7 de abril de 2020, foram admitidos 23 pacientes com COVID-19 grave. Foram monitorados com o dispositivo PiCCO™ 12 (22,6%) deles. Quando da admissão, o volume diastólico final global indexado era normal (média de 738,8mL ± 209,2) e, na hora 48, encontrava-se moderadamente aumentado (879mL ± 179), enquanto o índice cardíaco se achava abaixo do normal (2,84 ± 0,65). Todos os pacientes revelaram a presença de água extravascular pulmonar acima de 8mL/kg na admissão (17,9 ± 8,9). Não identificamos qualquer evidência de origem cardiogênica.
No caso de pneumonia grave por COVID-19, o quadro hemodinâmico e respiratório é compatível com edema pulmonar sem evidência de origem cardiogênica, o que favorece o diagnóstico de síndrome do desconforto respiratório agudo.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2021;33(1):31-37
DOI 10.5935/0103-507X.20210003
Os efeitos provocados pela COVID-19 em longo prazo são desconhecidos. O presente estudo tem como objetivo avaliar os fatores associados com a qualidade de vida relacionada à saúde e os desfechos em longo prazo em sobreviventes à hospitalização por COVID-19 no Brasil.
Este será um estudo multicêntrico de coorte prospectivo, aninhado em cinco ensaios clínicos randomizados desenhados para avaliar os efeitos dos tratamentos específicos para COVID-19 em mais de 50 centros no Brasil. Pacientes adultos sobreviventes à hospitalização por infecção por SARS-CoV-2 comprovada ou suspeita serão seguidos por um período de 1 ano, por meio de entrevistas telefônicas estruturadas. O desfecho primário é o escore de utilidade para qualidade de vida relacionada à saúde após 1 ano, avaliado segundo o questionário EuroQol-5D3L. Os desfechos secundários incluirão mortalidade por todas as causas, eventos cardiovasculares graves, reospitalizações, retorno ao trabalho ou estudo, condição funcional física avaliada pelo instrumento Lawton-Brody Instrumental Activities of Daily Living, dispneia avaliada segundo a escala de dispneia modificada do Medical Research Council, necessidade de suporte ventilatório em longo prazo, sintomas de ansiedade e depressão avaliados segundo a Hospital Anxiety and Depression Scale, sintomas de transtorno de estresse pós-traumático avaliados pela ferramenta Impact of Event Scale-Revised e autoavaliação da condição de saúde, conforme a Escala Visual Analógica do EuroQol-5D3L. Serão utilizadas equações de estimativas generalizada para testar a associação entre cinco conjuntos de variáveis (1 - características demográficas, 2 - condição de saúde pré-morbidade, 3 - características da doença aguda, 4 - terapias específicas para COVID-19 recebidas e 5 - variáveis pós-alta atualizadas) e desfechos.
O protocolo do estudo foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa de todas as instituições participantes. Os resultados serão disseminados por meio de conferências e periódicos revisados por pares.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2020;32(4):603-605
DOI 10.5935/0103-507X.20200098
As alterações neurológicas associadas à COVID-19 têm sido frequentemente descritas, principalmente nos casos de maior severidade, e estão relacionadas a causas multifatoriais, como a disfunção endotelial, a liberação de mediadores inflamatórios (cytokine storm), a disfunção endotelial e a hipoxemia. Relatamos o caso de uma paciente do sexo feminino, 88 anos, com quadro de hemorragia cerebral associada à angiopatia amiloide, no contexto de infecção por SARS-CoV-2.
Resumo
Rev Bras Ter Intensiva. 2020;32(4):487-492
DOI 10.5935/0103-507X.20200082
Descrever as características clínicas e os preditores de ventilação mecânica em pacientes adultos internados com COVID-19.
Conduziu-se um estudo de coorte retrospectiva com inclusão de pacientes hospitalizados entre 17 de março e 3 de maio de 2020, que tiveram o diagnóstico de infecção pelo SARS-CoV-2. As características clínicas e demográficas foram extraídas de registros em prontuário eletrônico.
Incluíram-se no estudo 88 pacientes consecutivos. A mediana da idade dos pacientes foi de 63 anos (IQR: 49 - 71); 59 (67%) pacientes eram do sexo masculino, 65 (86%) tinham educação universitária e 67 (76%) tinham, no mínimo, uma comorbidade. Dentre eles, 29 (33%) pacientes foram admitidos à unidade de terapia intensiva, 18 (20%) necessitaram de ventilação mecânica e nove (10,2%) morreram durante a hospitalização. O tempo mediano de permanência na unidade de terapia intensiva e o tempo mediano de ventilação mecânica foram, respectivamente, de 23 e 29,5 dias. Idade acima ou igual a 65 anos foi fator de risco independente para ventilação mecânica (RC: 8,4; IC95% de 1,3 - 55,6; valor de p = 0,02).
Nossos achados descrevem a primeira onda de pacientes brasileiros hospitalizados por COVID-19. Em nossa população, idade foi o maior preditor de insuficiência respiratória e necessidade de ventilação mecânica.