Lemos com interesse o artigo de Dominguez-Rojas et al. sobre um menino de 9 anos, com resultado negativo para a síndrome respiratória aguda grave causada pelo coronavírus 2 (SARS-CoV-2), submetido à laparotomia por suspeita de abdômen agudo (vômito, dor abdominal e diarreia), o qual não foi informativo.() No primeiro dia de pós-operatório, o paciente apresentou insuficiência respiratória atribuída à pneumonia com derrame pleural, necessitando de ventilação mecânica e suporte noradrenérgico.() Embora o desmame tenha sido possível 15 dias após a intubação, o paciente voltou a se deteriorar, manifestando-se com fasceíte plantar bilateral, delírios, ideação suicida, agitação psicomotora e duas convulsões generalizadas.() A ressonância magnética (RM) cerebral revelou hiperintensidades T2 bilaterais na substância branca dos lobos occipitais, levando ao diagnóstico de síndrome de encefalopatia posterior reversível (PRES –posterior reversible encephalopathy syndrome) devido à síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica; o paciente foi tratado com sucesso com imunoglobulinas intravenosas, resultando em recuperação quase completa no seguimento de 3 semanas após a alta.() O estudo é interessante, mas levanta questões que devem ser discutidas.
Discordamos do diagnóstico de PRES. A PRES costuma estar associada à hipertensão arterial.() No entanto, o paciente não tinha histórico de hipertensão arterial e apresentava hipotensão arterial ou valores normais de pressão arterial durante a hospitalização na unidade de terapia intensiva.() Os valores elevados de pressão arterial chegaram a ser medidos? Embora a PRES também possa se desenvolver na ausência de hipertensão arterial,() isso é bastante raro. Os diagnósticos diferenciais que deveriam ter sido descartados incluem hipóxia cerebral (o paciente apresentou hipóxia antes da intubação), encefalomielite disseminada aguda (EMDA), encefalite imune e trombose do seio venoso. Uma falha nesse aspecto é que o paciente não foi submetido a exames do líquido cefalorraquidiano. As investigações do líquido cefalorraquidiano são necessárias para descartar particularmente a EMDA e a encefalite.
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Lemos com interesse o artigo de Dominguez-Rojas et al. sobre um menino de 9 anos, com resultado negativo para a síndrome respiratória aguda grave causada pelo coronavírus 2 (SARS-CoV-2), submetido à laparotomia por suspeita de abdômen agudo (vômito, dor abdominal e diarreia), o qual não foi informativo.() No primeiro dia de pós-operatório, o paciente apresentou insuficiência respiratória atribuída à pneumonia com derrame pleural, necessitando de ventilação mecânica e suporte noradrenérgico.() Embora o desmame tenha sido possível 15 dias após a intubação, o paciente voltou a se deteriorar, manifestando-se com fasceíte plantar bilateral, delírios, ideação suicida, agitação psicomotora e duas convulsões generalizadas.() A ressonância magnética (RM) cerebral revelou hiperintensidades T2 bilaterais na substância branca dos lobos occipitais, levando ao diagnóstico de síndrome de encefalopatia posterior reversível (PRES -posterior reversible encephalopathy syndrome) devido à síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica; o paciente foi tratado com sucesso com imunoglobulinas intravenosas, resultando em recuperação quase completa no seguimento de 3 semanas após a alta.() O estudo é interessante, mas levanta questões que devem ser discutidas.
Discordamos do diagnóstico de PRES. A PRES costuma estar associada à hipertensão arterial.() No entanto, o paciente não tinha histórico de hipertensão arterial e apresentava hipotensão arterial ou valores normais de pressão arterial durante a hospitalização na unidade de terapia intensiva.() Os valores elevados de pressão arterial chegaram a ser medidos? Embora a PRES também possa se desenvolver na ausência de hipertensão arterial,() isso é bastante raro. Os diagnósticos diferenciais que deveriam ter sido descartados incluem hipóxia cerebral (o paciente apresentou hipóxia antes da intubação), encefalomielite disseminada aguda (EMDA), encefalite imune e trombose do seio venoso. Uma falha nesse aspecto é que o paciente não foi submetido a exames do líquido cefalorraquidiano. As investigações do líquido cefalorraquidiano são necessárias para descartar particularmente a EMDA e a encefalite.
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